MOVIMENTO NEGRO BRASILEIRO:
ALGUNS APONTAMENTOS HISTÓRICOS
Trabalho elaborado para a disciplina de Etnologia
Brasileira: Populações Indígenas e Africanas do curso Licenciatura Plena em
História.
Orientador: Professor Doutor Luiz Antonio da Costa Chaves
RIO DE JANEIRO
2015
INTRODUÇÃO
Em 1888, a Escravidão Brasileira foi, finalmente,
extinguida. Princesa Isabel, com todo seu poder e, principalmente, amor e
carinho pelos escravos, assina a Lei Áurea e concede a estes a tão sonhada
liberdade. Esta concepção da situação escravista brasileira, a maioria já
conhece, visto que é o dado pelo Sistema Educacional. Mas, quando analisamos
minuciosamente este tema, vemos quão “mentirosos” são as afirmações citadas
acima. Verdadeiramente estes fatos ocorreram, mas há muitas entrelinhas que
merecem ser revistas e observadas antes de colocarem Princesa Isabel com uma
heroína dos escravos e estes, por sua vez, sempre passivos a tudo. Esta
concepção de Escravidão que temos e vemos todo tempo em nossa vida acadêmica
não existe mais. É óbvio que não podemos dizer que havia um equilíbrio entre
senhores e escravos. Os prisioneiros foram os que mais sofreram. Entretanto,
fizeram muitos atos contra seus senhores, como “greves”, para atrasar e
complicar as colheitas, fugas, incêndios etc. Porém, estes não teriam ido
contra seus senhores se não tivessem ocorrido atos de crueldade contra eles
física e psicologicamente. Podemos ver de perto objetos de tortura que eram
usados para punir quando vamos à Ouro Preto (Minas Gerais), por exemplo.
Voltando às frases iniciais, quando Princesa Isabel “aboliu” a Escravidão, a
maioria dos escravos já estava libertos, vide as outras leis que outrora
entraram em vigor. Porém, muitos voltavam aos engenhos, pois na condição de
“liberto” tiveram dificuldades sociais, como conseguir trabalho, habitação,
educação, saúde pública, participação política, enfim, a ser cidadão.
RESUMO
Petrônio Domingues é doutor em História da Universidade
de São Paulo e Professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste).
Em seu artigo ‘Movimento Negro Brasileiro: alguns apontamentos históricos’,
fala da luta pela inclusão social do negro e superação do racismo na Sociedade
Brasileira a partir de 1889, com a Proclamação da República. Divide, assim, o
Movimento em quatro fases, mostrando suas dificuldades, consequências e os
métodos com os quais os negros foram agindo perante a Sociedade e a Política.
Na primeira fase do Movimento Negro, não há nada
assegurado para os negros. Há a criação de diversos grupos, sendo os maiores o
Grupo Dramático e Recreativo Kosmos e o Centro Cívico Palmares (1926). Esta
Instituição, assim como as outras, não era voltada para o combate ao racismo
diretamente e, sim, uma forma de agregar, ou seja, eram grupos
assistencialistas, proporcionando lazer e cultura aos “homens de cor”. Em 1899,
cria-se a Imprensa Negra, jornais com o intuito de publicar as questões negras.
Ela conseguia reunir pessoas com o fim de “empreender a batalha contra o
‘preconceito de cor’” (pág. 105). Eram as mazelas publicadas, denunciadas. Há a
criação, em 1931, da Frente Negra Nacional, que conseguiu converter o Movimento
Negro Brasileiro em movimento de massa. Cita-se o importante papel das
mulheres. Em 1936, a Frente Negra Brasileira torna-se um partido, mas com o advento
da Ditadura de 1937, todos os partidos são “eliminados”.
Após a ditadura ‘Varguista’, vem a segunda fase do
Movimento Negro. Outros grupos são formados, sendo um dos principais a União
dos Homens de Cor (UHC), que tinha como objetivo elevar o nível econômico e
intelectual das pessoas de cor. Seu jeito de atuar era fazendo debates na
imprensa local, publicação de jornais próprios, entre outras formas de agregar
o negro. Mas, novamente temos uma Ditadura (1964) e “acaba-se” a União dos
Homens de Cor. Vale ressaltar a criação, em 1944, do Teatro Experimental do
Negro (TEN), que defendia os direitos civis dos negros na qualidade de direitos
humanos. Esta Instituição defendia a criação de uma legislação
anti-discriminatória para o país. “Para o PCB, as reivindicações específicas
dos negros eram um equívoco, pois dividiam a luta dos trabalhadores” (página
111).
Sobre a terceira fase do Movimento Negro, o autor faz uma
divisão entre plano externo e interno. Neste, ele cita que foi marxista, no
qual o capital era o que alimentava o racismo. Naquele, o pretexto negro
inspirou-se na luta a favor dos direitos civis dos negros estadunidenses e nos
movimentos de libertação dos países africanos. Com a criação do Movimento Negro
Unificado (MNU), desenvolveu-se a proposta de unificar a luta de todos os
grupos e organizações anti-racistas em escala nacional, ou seja, fortalecer o
poder político do Movimento Negro. Este passou a intervir repetidas vezes na
área educacional (livros e capacitação profissional). Foi uma etapa mais forte
em relação às “imposições” dos negros, como colocar nomes africanos e a
religião deveria ser africana. Segundo esta fase, a mestiçagem era usada com o
intuito de branquear a população.
A quarta fase refere-se à introdução do hip-hop, pois
este estilo fala a linguagem da periferia. Este movimento “expressa a rebeldia
da juventude afro-descendente, tendendo a modificar o perfil dos ativistas do
Movimento Negro; seus adeptos procuram resgatar a auto-estima do negro, com
campanhas do tipo: Negro Sim!” (página 119).
Palavras-chave: Movimento Negro, Racismo, Abolição,
Princesa Isabel, Discriminação, Escravos, Senhores, Engenho, Luta, Lei Áurea.
RESENHA
“Movimento Negro Brasileiro: alguns apontamentos
históricos” (SciELO, Tempo, 2007, 23 páginas), do Doutor em História pela Universidade de São Paulo e Professor da
Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Petrônio Domingues, analisa as quatro
fases do Movimento Negro após a assinatura da Lei Áurea.
O presente Artigo escrito por Petrônio Domingues disserta
de forma clara, concisa, coesa e coerente sobre a luta pela inclusão social no
negro e o fim da discriminação racial na Sociedade Brasileira. Para isto, ele
divide o texto em quatro grandes e fortes fases do Movimento Negro e um quadro
bem descriminado, o que não o deixa cansativo.
A primeira fase, logo após a Abolição, foi marginalizada.
Isto não deixa de ser óbvio, porque tudo que é novo é estranho. Logo, a
probabilidade de não ser aceito é bem maior que o contrário ocorrer. A
tentativa de mudança no cotidiano social foi por meio da criação de grupos e da
Imprensa Negra. Nesta fase, temos um movimento de Assistência e não de um
combate direto contra o Racismo. Cita-se a importância da fundação da Frente
Negra Brasileira (FNB), que conseguiu converter o Movimento Negro Brasileiro em
movimento de massa. Torna-se um partido, mas é fechado devido à Ditadura
(1937). Tendo esta terminada, analisa-se a segunda fase do Movimento Negro com
a ampliação de sua ação: promoção de debates, jornais, serviços de assistência
jurídica e médica, ações voluntárias entre outras atitudes. Porém, novamente
temos uma Ditadura (1964) e os partido “caem”. Até aqui, temos Movimentos
Tradicionais tendo como principal princípio ideológico o Nacionalismo e como
posição política de “direita”. Na terceira fase, tem-se como princípio
ideológico o Internacionalismo e como posição política uma esquerda Marxista. A
visão era de que o Capitalismo alimentava o Racismo. Logo, só se teria uma
Sociedade Igualitária com a “destruição” deste Sistema. Há a criação do
Movimento Negro Unificado (MNU), que unificou a luta de todos os grupos
anti-racistas em escala nacional a fim de fortalecer o poder político do
Movimento Negro. Nesta fase podemos inferir lados positivo e negativo do
Movimento. O positivo seria o fato dos ativistas intervirem bem na área
educacional. Isto é muito bom e deveria ocorrer ate hoje. Quanto mais Educação,
mais a população sabe. Quanto mais Educação a população tem, menos alienação
temos. Logo, este ato de re-analisar a Pedagogia foi muito bem pensada. Já no
lado negativo, temos ativistas impondo condições perante a população negra: os
nomes têm que ser africanos, a religião tem que ser africana etc. Ou seja, eles
vêm por décadas lutando por uma causa e, quando estão em uma iminência de
conseguirem algo, começam a impor as suas condições, ou como diria no popular,
começam a “mostrar as garras”. E na quarta fase, a base é a introdução do
hip-hop, o qual “fala a linguagem da periferia” (página 119). O autor conclui
afirmando aquilo que nós sabemos: os negros conseguiram a liberdade, mas sua
entrada na Sociedade como Cidadão por completo foi e até hoje é difícil.
COMPARAÇÃO
Quando falamos de Escravidão Brasileira, logo vem à mente
Senhores de Engenho no período Colonial como pessoas autoritárias e que viviam
para explorar e punir os Escravos. Estes eram as pessoas humildes e pobres que
vinham da África e aqui ficavam sendo altamente exploradas por aqueles, tudo
isto pacificamente, ou seja, sem poder fazer nada. Entretanto, como já foi
mencionado na Introdução deste Trabalho Acadêmico, quando se estuda a fundo o
processo de aproximadamente três séculos de nossa Escravidão, analisamos que
não foi bem assim que funcionou.
No livro “Negociação e Conflito” de João José Reis e
Eduardo Silva, no capítulo 04, o título já diz tudo: “Fugas, Revoltas e
Quilombos: Os Limites da Negociação”. A
questão do Movimento Negro pela liberdade não precisa necessariamente ser
proferida a partir da Abolição. Muitas outras ações eram feitas por eles para
romper com esta exploração, aliás, não é por que é Escravo que é Alienado. Eles
sabiam o valor que tinham. Eles sabiam que se faltassem, o Senhor não ficaria
bem, pois a produção no Engenho começaria a estagnar. Havia as fugas
reivindicatórias, como se fosse uma greve, ou seja, por direitos e acordos. As
insurreições/rompimentos, nos quais eles fugiam para nunca mais serem achados.
Como se diz no popular: é conseguir a liberdade “na marra”.
Entramos em “Nosso racismo pós-escravista”, capítulo 5 do
livro “Brasil em preto e branco”, de Jacob Gorender. Este texto “tem mais a
ver” com o aquilo que Petrônio Domingues, autor do Artigo estudado, diz. Antes
mesmo de 1888, da Lei Áurea e Princesa Isabel, a maioria dos escravos já estava
na condição de “Livre”. Mas, por política entre outras causas, houve a
assinatura da lei que aboliu “definitivamente” a Escravidão em nosso país.
Porém, depois deste grande evento, não houve mais nada em relação aos ex-prisioneiros.
Como uma pessoa que por anos ficou à mercê da Sociedade será re-integrado a
esta? Neste momento que surgem os Movimentos Negros.
Vale ressaltar a Teoria do Branqueamento. Esta dizia que
a mestiçagem seria o caminho para deixar o país branco/ariana. J. B. de Lacerda
presumia a extinção da raça negra do Brasil fazendo misturas raciais
principalmente com os italianos. Em 1910, ele previu que em 2012 a Sociedade
Brasileira estaria dividida da seguinte forma: 80% brancos, 3% mestiços, 17%
índios e 0% negros. Os índios iriam continuar isolados e mestiços e negros
iriam se misturar com europeus e iriam branquear. Como podemos analisar, e,
para isto, basta olhar para o lado, esta Teoria foi totalmente errônea.
BIBLIOGRAFIA
CHAVES, L. A. C. Algumas considerações sobre a história
afro-brasileira: a escravidão no Brasil e suas origens africanas, Rio de
Janeiro.
BELLUCCI, Beluci. As Relações Brasil-África no contexto
do Atlântico Sul. Edicota Ucam, Rio de Janeiro, p. 31-67, 2003.
DOMINGUES, Petrônio. Movimento negro brasileiro: alguns
apontamentos históricos. Tempo, 2007, vol.12, no.23, p.100-122. Disponível em
<
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-77042007000200007&lng=en&nrm=iso
> acesso em 26/05/2015.
GORENDER, J. Brasil em preto e branco. Editora Senac, São
Paulo, n.4, p. 55-70, 200?.
PEREGALLI, Henrique: Escravidão no Brasil – 3.ed., São
Paulo: Global, 1997
REIS, J.J.; SILVA, E. Negociação e conflito: A
resistência negra no Brasil Escravista. Companhia das Letras, São Paulo, p.
62-78, 1989.
Autor do Artigo: Raphael Paiva
(Acadêmico em História | Criador do Blog | Professor de Inglês | Responsável pela correção Ortográfica)
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Artigo 01:
TITANIC: O Pseudo Acidente!?
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História da Música Evangélica Brasileira: Causas e Contexto de sua origem!
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