FEVER FOR History!

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Maria Bonita: A mulher no cangaço!

MARIA BONITA: A MULHER DO CANGAÇO!











Rio de Janeiro
2017
Paulo Jorge Gonçalves da Silva

Casa de Maria Bonita- cidade de Paulo Afonso



"Se, para muitos, Lampião foi um bandido sanguinário, para muitos outros foi um herói e continua a ser uma fascinante e lendária figura”. É desta forma que o Rei do Cangaço é descrito em reportagem publicada na revista O Cruzeiro, em 6 de junho de 1959, intitulada ‘Justiça para Lampião’.

Muito se escreve e fala-se sobre o “Rei do Cangaço”, mas o que não se pode deixar para trás é a participação do que seria a “Rainha do Cangaço”, seu grande amor Maria Bonita. A paixão dos dois era muito intensa, comparada a dos famosos Bonnie e Clyde[1]. Maria amoleceu o coração do Rei, acompanhando-o até o fim de sua vida.

Neste novo Artigo vamos conhecer um pouco não apenas da história de Maria, mas da participação da mulher no cangaço.

UMA MULHER CHAMADA MARIA E O BANDO DE MULHERES
Será que o cangaço seria diferente se Vergulino não tivesse conhecido Maria Bonita? Não podemos responder a essa pergunta, mas podemos com certeza afirmar que ela mudaria a direção dessa campanha, exercendo uma fortíssima influência no indomável marido e sendo capaz de matar e morrer pelo seu amor.

Maria Gomes de Oliveira nasceu dia 8 de março de 1911 (Dia Internacional da Mulher) em uma fazenda em Santa Brígida, em Paulo Afonso – BA. Filha de Maria Joaquina Conceição Oliveira e José Gomes de Oliveira, era uma família humilde que vivia e se sujeitava às leis do sertão.

Aos 15 anos ela foi obrigada a se casar com José Miguel da Silva, mais conhecido como “Zé Neném”, que, além de fazer de tudo com a jovem moça (tudo de ruim), era estéril. Segundo relatos, todas as vezes que este a maltratava, ela fugia para a casa dos pais, passava dias e dias lá até os ânimos se acalmarem. Em uma dessas conheceu um caboclo alto, um tanto corcunda, cego do olho direito, óculos ao estilo professor, manco de um pé (baleado três anos antes), com moedas de ouro costuradas na roupa. Exalava mistura forte de perfume francês com suor acumulado de muitos dias. Era de costume o bando de Lampião sempre passar pela fazenda, pois o Rei do Cangaço tinha um certo nível de amizade com a família.

Podemos dizer que a grande responsável em unir os dois pombinhos foi a mãe dela, cansada de ver a filha sofrer. Todas as vezes que se encontrava com lampião comentava com ele sobre sua filha e isso foi aproximando o famigerado senhor com aquela singela menina. Os dois se conheceram em 1929. O cangaceiro podia até não preencher os requisitos de um bom partido, mas foi com esses atributos que conquistou a futura mulher.

E a aproximação deu certo! Um ano depois Maria subia na garupa do cavalo de Virgulino Ferreira da Silva e entrava para o bando. Corpo bem feito, olhos e cabelos castanhos, um metro e cinquenta e seis de altura, testa vertical, nariz afilado. Era bonita, habilidosa na costura (assim como era Lampião) e adorava dançar. Foi o suficiente para Virgulino quebrar a tradição do cangaço e permitir o ingresso de uma mulher no bando, o que abriu precedente para várias outras.

Mas de onde surgiu o apelido ‘Maria Bonita’? Curiosamente, ela nunca foi conhecida por este cognome. Segundo o historiador Frederico Pernambucano de Mello, o “nome de guerra” não surgiu no Sertão, mas no meio urbano do Rio de Janeiro, em 1937, por meio do uma “conspiração” de jornalistas. A partir dali, tomou conta do Brasil. Até então, a mulher de Lampião era chamada de ‘Rainha do Cangaço’, ‘Maria de Dona Déa’, ‘Maria de Déa de Zé Felipe’ ou ‘Maria do Capitão’. O nome definitivo surgiu inspirado em um romance de 1914, Maria Bonita, de Júlio Afrânio Peixoto, adaptado para o cinema 23 anos depois. Vários repórteres chegaram ao consenso para padronizar a informação disseminada pelos jornais impressos.

Aqui vamos ver um relato de Wanessa Campos (historiadora) sobre o perfil de Maria bonita:

Dadá atirava com destreza. Tinha boa pontaria, valentona e a mão certeira no rifle era a mesma que bordava. Foi a estilista do Cangaço inovando os bornais com florais coloridos e colocando estrelas, signo de Salomão, moedas, fitas, nos chapéus dos cangaceiros. Buscava inspiração no Raso da Catarina, Bahia por ser um lugar tranquilo. A sua história já inspirou filmes. Sua coragem e superação foram reconhecidas pela Câmara Municipal de Salvador em 1980 “pela sua luta e representatividade feminina”. (CAMPOS, 2015, p.2)

Maria Bonita morreu em 28 de julho de 1938, quando o bando acampado na Grota de Angicos, em Poço Redondo (Sergipe), foi atacado de surpresa pela Polícia Armada Oficial (conhecida como "Volante"). Foi degolada ainda viva, assim como Lampião, porém este já morto, e outros nove cangaceiros.
 
À esquerda Maria e Lampião

AS CANGACEIRAS
Antes de aparecer Maria, o bando de Lampião não aceitava mulheres. Mas isso tudo mudou e elas tiveram participação decisiva no grupo.

Nos três primeiros anos, de 1929 a 1932, as mulheres do cangaço ficavam reclusas no Raso da Catarina, refúgio no Nordeste da Bahia. Quando, enfim, foram autorizadas a acompanhar os bandos de cangaceiros, passaram a conviver com a elite sertaneja, ou seja, os coronéis.

As mulheres não caminhavam junto com o grupo masculino. Além disso, caminharam apenas por alguns estados e não por todo o Nordeste, como se imaginava. Percorreram Sergipe, Bahia, Pernambuco e Alagoas, porém não participavam diretamente dos combates. Elas ficavam escondidas enquanto os homens saqueavam, sequestravam e matavam. Elas usavam armas apenas para a defesa pessoal, ficavam responsáveis de cuidar dos cangaceiros, faziam os afazeres domésticos e cuidavam das feridas, proporcionando, assim, uma melhor jornada, uma melhor condição do grupo em continuar sua campanha. Elas melhoraram a parte estética, levando máquinas de costura (apesar de não costurar), produtos de higiene, panelas, etc.

A história mostra que a Bahia foi o Estado que mais “rendeu” mulheres cangaceiras, a começar por Maria Bonita. Em seguida veio Sergipe. Eis algumas cujos nomes a História Cangaceira registra:

- Bahia: Mariquinha, mulher de Labareda; Naninha, mulher de Gavião; Nenê, mulher de Luis Pedro; Noca, mulher de Mormaço; Osana, mulher de Labareda (segunda); Lidia, mulher de Zé Baiano; Verônica, mulher de Bala Seca; Zefinha, mulher de Besouro.

- Sergipe: Maria Fernandes, mulher de Juriti; Rosalina, mulher de Mariano; Sebastiana, mulher de Moita Brava.

- Pernambuco: apenas Dadá, mulher de Corisco.

Há quem diz que Lampião começou a perder terreno por causa das mulheres, pois, na hora de fugir, elas ficavam para trás limpando o acampamento. Era uma visão machista sobre a mulher (visão particular). Na realidade elas não tinham uma função específica.

Cada dia uma era responsável para preparar o alimento. Quem costurava era os homens. Havia grandes costureiros no grupo, um deles bem famoso chamado Luiz Pedro, que morreu depois de tentar fugir.

Os cangaceiros não tinham o costume de ser machistas severos. Entretanto, quando o assunto era infidelidade de suas companheiras, o quadro mudava de figura. De acordo com relatos de D. Maria Francisca (bisavó da noiva do escritor deste Artigo), que namorou um cangaceiro, assim como hoje em dia, os homens envolvidos no caso de traição brigavam e as mulheres também apanhavam. Porém, é válido ressaltar que isto é História oral, passado de geração a geração.

Maria Bonita


O CANGAÇO NAS TELAS



Segue abaixo uma análise crítica feita por Gustavo Menezes ao Portal ‘Não São Imagens’ dos 10 melhores filmes/documentários sobre cangaço:

O cangaço vem inspirando os fazedores de cinema no Brasil desde que a câmera do mascate libanês Benjamin Abrahão registrou o bando de Lampião em 1937. O Cangaceiro (Lima Barreto, 1953) conquistou o Festival de Cannes e inaugurou de fato o nordestern, gênero que transpunha o faroeste americano para o sertão. A chanchada logo atacaria nas paródias do gênero, de Os Três Cangaceiros (Victor Lima, 1959) a O Cangaceiro Trapalhão (Daniel Filho, 1983), e até mesmo a pornochanchada, o faroeste espaguete e o manguebeat viriam somar ao gênero nas décadas seguintes.

10 - O Cangaceiro (1953)
Direção: Lima Barreto
Mesmo incorreto no retrato simplista que faz do fenômeno do cangaço, transplantando os papéis do western para o sertão (o cangaceiro toma o lugar do bandido mexicano) e macaqueando roteiro, técnica e estética do cinema americano, é de importância histórica devido a sua repercussão internacional e por marcar, simultaneamente, o início do nordestern e o fim da Vera Cruz. Também iniciou a longa lista de papéis de cangaceiro na carreira de Milton Ribeiro, que se tornaria figura carimbada do gênero pelas próximas duas décadas.

Cartaz:

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09 - Corisco & Dadá (1996)
Direção: Rosemberg Cariry
Esta pungente reconstituição cronológica da trajetória do segundo casal de cangaceiros mais famoso da história chama atenção pela crueza e seriedade com que trata da violência inerente ao tema. Feita no início da Retomada ajudou a alavancar as carreiras de Dira Paes e Chico Díaz, ambos com performances de respeito nos papéis-título. A trilha original é do Quinteto Violado.

Cartaz:

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08 - Os Últimos Cangaceiros (2011)
Direção: Wolney Oliveira
Um casal de ex-integrantes do bando de Lampião é descoberto após 70 anos vivendo sob pseudônimos. A partir daí, Durvinha e Moreno fazem as pazes com a memória, recontando suas trajetórias antes, durante e depois do cangaço, com riqueza de detalhes. O filme, então, segue a recepção dos dois após a revelação do segredo septuagenário, analisando como a visão sobre o fenômeno do cangaço mudou no Brasil. Conta com depoimentos de especialistas, ex-Volantes e outros ex-cangaceiros, além de imagens de arquivo preciosas.

Cartaz:

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07 - Lampião, o Rei do Cangaço (1963)
Direção: Carlos Coimbra
Carlos Coimbra foi, sem dúvida, o maior herdeiro d’O Cangaceiro. Com várias contribuições de peso ao nordestern, ajudou a estabelecer o gênero e a manter vivo no cinema o interesse pelo bando de Lampião. Neste, que considero seu melhor filme de cangaço, ele parte do imaginário popular para recriar os últimos dias de Lampião e Maria Bonita (encarnados muito bem por Leonardo Villar e Vanja Orico). A trilha é do maestro Gabriel Migliori e a fotografia, de Tony Rabatoni.

Cartaz:

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06 - O Cangaceiro Trapalhão (1983)
Direção: Daniel Filho
Nas três décadas em que fizeram sucesso, nada escapou à veia cômica dos Trapalhões. Valendo-se da fama da minissérie Lampião e Maria Bonita, produzida pela Globo no ano anterior, a trupe convidou Nelson Xavier e Tânia Alves para reprisar os papéis do casal de cangaceiros e adicionou à trama o clichê da troca de identidades. Didi Mocó então se torna sósia do “rei do sertão”, que anda perseguido pelo Tenente Zé Bezerra (José Dumont, mais ou menos reprisando seu Zé Rufino da minissérie). Com diálogos afiadíssimos de Chico Anísio, o filme casa muito bem o estilo de fantasia e aventura dos Trapalhões com a mitologia do cangaço e do sertão, resultando num dos melhores filmes do grupo.

Cartaz:

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05 - O Último Dia de Lampião (1975)
Direção: Maurice Capovilla
Docudrama que reconstitui a emboscada à gruta de Angicos que vitimou Lampião e boa parte de seu bando. Conta com depoimentos fundamentais de testemunhas oculares da história. O cuidado a detalhes na encenação é tanto que a pesquisa de roteiro contou com ajuda do cangaçólogo Antônio Amaury Corrêa de Araújo, e os figurinos, das ex-cangaceiras Dadá e Sila.

Cartaz:

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04 - O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro (1969)
Direção: Glauber Rocha
Nesta continuação espiritual de Deus e o Diabo na Terra do Sol, o matador Antônio das Mortes (Mauricio do Valle) vai à fictícia cidadezinha Jardim das Piranhas para acabar com Coirana (Lorival Pariz), novo líder cangaceiro que surgiu por lá. No processo, questiona seus princípios e vira-se contra o latifundiário do local. Mesmo tendo mais cara de western e filme de ação que seu antecessor, o Dragão não deixa de lado o fervor mítico-popular característico dos filmes de Glauber.

Cartaz:

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03 - Baile Perfumado (1997)
Direção: Lírio Ferreira e Paulo Caldas
No calor da Retomada, Pernambuco já dava sinais de seu futuro glorioso com este marco. Aqui, o bando de Lampião (Luiz Carlos Vasconcelos) é mostrado pelo olhar do mascate libanês Benjamin Abrahão (Duda Mamberti), autor das únicas imagens em movimento do grupo e testemunha ocular de atributos pouco comentados do rei do cangaço. Cheio de energia, o filme acertadamente tem trilha original composta pelos cabeças do incipiente movimento manguebeat – nomes como Chico Science, Fred 04 e Siba.

Cartaz:

Assista!


02 -  Memória do Cangaço (1964)
Direção: Paulo Gil Soares
Hoje um clássico do documentário nacional, este média-metragem da Caravana Farkas traça a história do cangaceirismo, do início ao fim, com base em pesquisa cuidadosa. Além de especular sobre as origens do fenômeno – apresentando até teses racistas da medicina da época -, o filme tem depoimentos valiosos, como o do coronel José Rufino, celebrado assassino de cangaceiros, e o do ex-cangaceiro Saracura.

Cartaz:

Assista!


01 - Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964)
Direção: Glauber Rocha
Com uma linguagem inovadora, que inclui a incorporação de narração em versos de cordel e a fotografia inspirada na xilogravura, Deus e o Diabo representou, também, uma visão inaugural na cinematografia brasileira sobre o fenômeno do cangaço. Rejeitando a espetacularização acrítica d’O Cangaceiro e seus seguidores, Glauber Rocha ressignifica aqui os códigos do western e apresenta uma tese incontornável: o cangaceirismo e o messianismo são frutos do mesmo horror; são duas respostas equivalentes ao mesmo problema da fome e da violência insolúveis. Mas são, antes de tudo, alienação.

Cartaz:

Assista!

OUTRAS FOTOS




DATA DA FOTO: 1939
FOTÓGRAFO: Desconhecido
LOCAL: Aracaju, SE, Brasil.
No dia da morte do casal Lampião e Maria Bonita, Virgulino morreu de tiro e foi degolado conforme os costumes da época. Maria Bonita gravemente ferida foi degolada ainda viva. No IML de Aracaju, as cabeças foram observadas pelo médico Dr. Carlos Menezes. Ao contrário do que pensavam, as cabeças não apresentaram qualquer sinal de degenerescência física, anomalias ou displasias, tendo sido classificados, pura e simplesmente, como normais. A imagem acima, o legista Charles Pittex e as cabeças mumificadas de Lampião e Maria. (Portal Foto da História)

BIBLIOGRAFIA




[1] Bonnie e Clyde : casal de jovens que ficaram conhecidos por praticar assaltos no interior americano entre os anos de 1931 a 1934. Morreram ambos impiedosamente cravados a balas em Lousiana, no dia 23 de maio de 1934.



Autor do Artigo: Paulo Silva
(Professor de História | Co-Criador do Blog | Técnico em Enfermagem)

Contato: 
profhistoria_paulo@yahoo.com

OUTROS ARTIGOS DO AUTOR
Artigo 01:

Artigo 02:

domingo, 5 de março de 2017

História da Música Evangélica Brasileira: Causas e Contexto de sua origem! [2ª EDIÇÃO - Atualizado]

HISTÓRIA DA MÚSICA EVANGÉLICA BRASILEIRA:
CAUSAS E CONTEXTO DE SUA ORIGEM!
















RIO DE JANEIRO
2017
Raphael Paiva Peres da Silva


AGRADECIMENTOS


Agradeço a Deus por me estar dando forças nestes 27 anos de vida. Agradeço aos meus pais, que me doutrinaram no caminho do Senhor. Em relação à música, agradeço à minha mãe, que “me jogou” no meio. Como não falar em Música-Igreja-Solo-Coro sem citar o nome Debora Paiva? Meu exemplo! Minha diva! Meu ídolo!

Agradeço à minha irmã que, com suas críticas silenciosas (ou apenas em suas gargalhadas), faz-me buscar fazer melhor.

Agradeço à minha avó, a mais sensual e sexy de todas, que tem aturado este menino durante estes anos de vida. “Lá vem Faraó!”.

Agradeço às pessoas que, sempre que puderam, deixaram-me cantar e me expressar do jeito que mais amo: tio Isaías, tia Ester, Sandro, tia Inês, tia Meire, Joás, Cristiane, pastor Dercinei e, claro, ao meu amigo e apoiador Ricardo.

Por último, mas não menos importante, agradeço ao pesquisador, colecionador e escritor Salvador de Sousa que no ano de 2011, com o lançamento do livro ‘História da Música Evangélica no Brasil’ pela Editora Ágape, fez-me ter mais vontade de pesquisar sobre esta grande História que a Música Evangélica possui.


DEDICATÓRIA


Dedico este Artigo ao meu grande avô – José Paiva de Oliveira. Um grande homem. Um grande cristão. Um exemplo. Foi este quem dedicou, apresentou e entregou a vida da minha mãe nas mãos de Deus desde o ventre da minha avó. Por onde passava, um sorriso brilhava e levava a Palavra de Deus sem nem precisar mencioná-la. Como? Quem é de Deus mesmo é diferente! Quem é de Deus mesmo não precisa ficar falando "aos cotovelos" que é. Apenas é! Obrigado, meu grande avô!































"Pois Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio." (2 Timóteo 01:07)


HISTÓRIA DA MÚSICA EVANGÉLICA BRASILEIRA: CAUSAS E CONTEXTO DE SUA ORIGEM!
Raphael Paiva Peres da Silva
RESUMO: A música evangélica brasileira tem sua história, ainda em pesquisa visto que são poucos os interessados por esta arte exercida de forma tão excelente. A cada dia acha-se uma novidade em relação a pioneirismo ou um novo LP encontrado que mostra que tem mais história do que já sabíamos. O presente trabalho visa mostrar esta pequena grande história mostrando suas origens e causas desde D. João VI, quando este assina o Tratado de Aliança e Amizade e Comércio e Navegação. Analisa-se também a criação das gravadoras, jornais, os pioneiros, pastores e músicos envolvidos direta ou indiretamente para o crescimento e desenvolvimento da Música Evangélica. Como Metodologia, utiliza-se como base o livro ‘História da Música Evangélica no Brasil’ de autoria de Salvador de Sousa, lançado em 2011 pela Editora Ágape e compara-se com os sete livros utilizados como Bibliografia.

PALAVRAS-CHAVE: Música, Gospel, Evangélica, Igreja, Pioneirismo

ABSTRACT: The Brazilian Gospel music has its history, still in research since few are interested by this art exerted of so excellent form. Every day is a novelty in relation to pioneering or a new LP found that shows that it has more history than we already knew. The present work aims to show this small great history showing its origins and causes since D. João VI, when this one signs the Treaty of Alliance and Friendship and Commerce and Navigation. It is also analysed the creation of record labels, newspapers, pioneers, pastors and musicians involved directly or indirectly for the growth and development of Evangelical Music. As a Methodology, it is used the book 'History of Evangelical Music in Brazil' written by Salvador de Sousa, launched in 2011 by Editora Ágape and is compared with the seven books used as Bibliography.


KEYWORDS: Music, Gospel, Evangelical, Church, Pioneering


PONTOS/CONCEITOS IMPORTANTES
Religião (por Dicionário Aurélio)
1. Culto prestado à divindade.
2. Doutrina ou crença religiosa.
3. O que é considerado como um dever sagrado.
4. Reverência, respeito.
5. Escrúpulo.
6. Comunidade religiosa que segue a regra do seu fundador ou reformador.
7. em religião: como religioso.
8. religião do Estado: aquela que o governo subvenciona.

Evangelho (por Dicionário Aurélio)
1. Doutrina de Cristo.
2. Cada um dos quatro livros principais que a encerram (o Evangelho de S.).
3. Parte do evangelho que se lê na missa.
4. Verdade indiscutível.
5. Doutrina tendente a regenerar a sociedade.
6. Conjunto de princípios por que um partido ou uma seita se dirige.
7. lado do Evangelho: lado do altar que fica à esquerda dos assistentes.
8. levar o Evangelho a: pregar e tornar conhecido o Evangelho em; evangelizar.
9. ordens de Evangelho: ordens de diácono ordens de diácono.


O GOSPEL E A MÚSICA GOSPEL
“Gospel pode ser entendido como um estilo de música dos cultos religiosos, que possui sua origem na comunidade negra norte-americana, caracterizando-se por uma harmonia simples, pelo gênero folclórico e pela intensa influência do blues.” [Fonte: https://www.significados.com.br/gospel/]

A Música Gospel é conhecida no Brasil como o estilo musical religioso dos grupos ditos cristãos. Entretanto, temos que aumentar este conceito: a Música Gospel são vários tipos de estilos dentro de um. Os cantores cristãos (evangélicos) não possuem apenas um estilo de gravar e, sim, utilizam-se de todos os estilos que existem e colocam os ensinamentos da Bíblia (a dita Palavra de Deus) nas diversas melodias: Axé, Black music, Bossa Nova, Country, Forró, Funk carioca, Instrumental, Louvor e Adoração, Metal, MPB, Pentecostal, Pop, Rap, Reggae, Regional, Rock, Sacro, Samba e pagode e Sertanejo (SOUSA, 2011, p.09).

Além disso, vale ressaltar que os estilos, assim como no mundo dito secular, mudam (ou são escolhidos pelo cantor e/ou gravadora) de acordo com o que é mais rendável no mercado, até porque, o Mercado Gospel é também um Mercado e, para isto, possui sua logística, dados, certificados. Um dos exemplos mais clássicos é o Sacro/Lírico. Os anos 80 da Música Evangélica Brasileira é conhecido pelos cantores e grupos que trouxeram músicas internacionais e fizeram suas versões (ex.: Marina de Oliveira, Cristiane Carvalho, Grupo Prisma Brasil, Grupo Renascença). Já nos anos 90, o Lírico cai e entra em voga as músicas congregacionais, músicas ditas de ‘Louvor e Adoração’ (ex.: Comunidade Internacional da Zona Sul, Diante do Trono, Renascer Praise). A partir dos anos 2000, o Sacro tornou-se um mercado não vendável. O que vende hoje no meio gospel é pop (ex.: Fernanda Brum, Aline Barros) e pentecostal (ex.: Cassiane, Shirley Carvalhaes, Lauriete, Andrea Fontes). Vale acrescentar que a música pentecostal é uma das que nunca saíram ‘de moda’. É a chamada ‘reteté’ ou ‘música de fogo’ que sempre foi rendável.

Junto a isto, acrescenta-se que este mercado é grande e, de acordo com dados do Portal ECONOMIA/TERRA, movimenta R$ 21,5 bilhões por ano. Ou seja, perde apenas para o pop-rock e sertanejo. “O mercado consumidor gospel cresce 14% ao ano, segundo estimativa da Associação Brasileira de Empresas e Profissionais Evangélicos. A música responde por 10% dos R$ 20 bilhões que o setor fatura no país, incluindo moda, internet e até sex shops” (Portal JM Notícias).

Este grande mercado que está girando a todo vapor explica-se por uma questão relativamente simples: a palavra ‘pecado’. Seguindo as palavras da Bíblia e as ordenanças de Jesus Cristo, os cristãos consideram que pirataria é crime, logo, pecado. Se este texto tivesse sido feito há uns 15 anos, poderíamos acrescentar que as Qualidades Vocais e Poéticas ajudariam nas vendas. Mas o mundo mudou, as músicas mudaram e o Mercado Gospel também mudou, sendo “apenas” mais um mercado que gira de acordo com o que o Mundo pede.

“Estimamos que os evangélicos movimentem cerca de R$ 21,5 bilhões por ano. É um público com bom poder de consumo, pois vive uma vida mais regrada e não gasta com bebida, cigarro ou balada. O mercado começou a se dar conta disso nos últimos 10 anos, e o número de empresas voltadas pra eles está crescendo.” (Marcelo Rebello, presidente da Abrepe - Associação Brasileira de Empresas e Profissionais Evangélicos - e organizador do Salão Internacional Gospel.)

O "VOCABULÁRIO CRISTÃO"
É evidente afirmar que, para se falar de religiões cristãs, sua cultura, sua arte e sua música, nós temos que analisar alguns termos que, no cotidiano, não são muito usados, sendo mais expressados dentro dos círculos sociais de quem frequenta.

1. Apresentação: show, performance, concerto.
Ex.: Aline Barros faz apresentação. Alcione faz show.

2. Adoradores: cantores, artistas.
Ex.: Aline Barros é uma adoradora. Alcione é uma artista.

3. Secular: algo que não seja evangélico.
Ex.: Aline Barros canta músicas evangélicas. Alcione canta músicas seculares.

4. Ministério: Carreira
Ex.: Cassiane tem mais de 30 anos de Ministério. Xuxa tem mais de 30 anos de carreira.


INTRODUÇÃO
Para entender como a Música Evangélica vem e fica no Brasil, faz-se necessário viajar para Portugal no reinado de D. João II, no século XV, onde este adotava uma nova política de centralização que hostilizava a nobreza. Medidas administrativas e judiciárias que aumentavam o poder de sua burocracia e, por conseguinte, enfraquecia a nobreza senhorial. A Monarquia consolida-se e, em 1485, D. João retoma o projeto da expansão ultramarina.

“Lucros, império e fé combinaram-se!”
(WEHLING, Arno; WEHLING, Maria José. 2005, p.38)

De forma bem simples, e por tópicos, será explicado como se deu a Expansão Marítima (As Grandes Navegações), visto que o intuito do presente Artigo é falar sobre a História da Música Evangélica e não do “nascimento” do Brasil Colônia:

- Escassez de ouro na Europa no século XV;
- Busca de ouro em terras africanas;
- Falta de cereais, como trigo;
- A batalha que resultou na conquista de Ceuta (1415);
- O espírito das Cruzadas[1];
- Plano para atingir as Índias (1474);
- Muçulmanos impedem a passagem dos portugueses pelo Mar Mediterrâneo;
- Diogo Cão descobre a foz do rio Zairo, no litoral da Angola;
- Bartolomeu Dias atravessa o cabo da Boa Esperança e atinge a passagem para o Oceano Índico (1488);
- Descoberta da América por Cristóvão Colombo (1492);
- Vasco da Gama chega às Índias (Calecute), inaugurando a chamada Rota do Cabo (1498);
- No ano de 1500 é organizada a segunda viagem para Índia, sob comando do fidalgo da Ordem de Cristo Pedroalvarez de Gouvea, ou Pedro Alvares Cabral.

A Europa, nesta época, vivia uma “crise espiritual” devido ao decréscimo de fiéis na Igreja Católica. Como já era normal, nas embarcações sempre havia jesuítas. Em relação às viagens de expansão, o intuito era de converter os nativos (índios) para realimentar a máquina católica portuguesa. Vale ressaltar que esta queda de membros - e também um pouco do poder do Catolicismo - deu-se com o surgimento do Cristianismo, visto que este aceitava que pessoas ditas “normais” pudessem enriquecer, ao contrário daquele, que não aceitava o enriquecimento “alheio” e do nada.

O SINCRETISMO RELIGIOSO
Estamos no Brasil Colônia! Religião “não existe”! O que há é um Sincretismo Religioso. Eram ideologias africanas, indígenas e portuguesas (que já eram oriundas de uma fusão de outras ideologias) reunidas no Brasil. Esta mistura era uma forma de o senhor de engenho “ter os escravos nas mãos”. Ninguém era inocente e ignorante, como nossa vida acadêmica sempre nos ensina. Os donos de terra sabiam que era necessário fornecer certo “lazer” para os escravos, assim como os escravos sabiam de sua importância para os senhores e para o crescimento e desenvolvimento dos engenhos.

A religiosidade colonial também foi conhecida por ter sido muito falha, no fato de que os que pregavam, ensinavam as doutrinas e faziam os ritos relacionados à adoração a Deus eram do baixo clero, ou seja, pessoas totalmente mal preparadas e qualificadas.

Retrato de Hans Staden feito por H. J. Winkelmann, em 1664.

Em meio ao que foi dito na Introdução e nestes primeiros parágrafos do Desenvolvimento, tem-se um dos primeiros evangélicos a pisar no Brasil: o alemão Hans Staden. Nascido em 1525 na cidade de Homberg, foi um aventureiro do século XVI. Veio ao Brasil por duas vezes a fim de combater nas capitanias de Pernambuco (1547) e de São Vicente (1549). Em 1553, Tomé de Sousa[2] concede a ele a função de artilharia no forte de Santo Amaro, com o intuito de combater os indígenas. No ano seguinte é capturado por Tupinambás, ficando nove meses preso. Lá, cantava Salmos e Cânticos, como o clássico Salmo 130 (Das profundezas clamo a Ti,Senhor!). E foi por causa da cantoria que se livrou da morte, visto que os índios gostavam. Além disto, “recitava trechos bíblicos e orava em voz alta” (SOUSA, 2011, p.22), deixando os índios amedrontados, adquirindo respeito e, por consequência desta convivência de medo e, depois, “amor”, aprendendo a língua deles. Sendo solto, voltou à Europa no dia 31 de outubro de 1554, chegando a Normandia em 20 de fevereiro de 1555.

OUTROS PROTESTANTES NO BRASIL
“Sobre a presença espanhola, sabemos que antes de Cabral passaram pela costa brasileiro Diego de Lepe e Vicente Pinzón. Pouco mais tarde os espanhóis procuraram uma passagem para o Pacífico pelo Sul do continente, visando chegar às ilhas Molucas. Achado o caminho com a expedição de Fernão de Magalhães (1519-1522), estabeleceram logo uma rota regular, que transformou o litoral brasileiro em ponto de apoio para seus navegadores e na qual exploravam também o pau-brasil.

A presença francesa no litoral brasileiro foi igualmente precoce. Sabemos que Binot de Gonneville aqui esteve em 1504, carregando pau-brasil, mas ele próprio indicou, em relato posterior, outros franceses que o haviam antecedido. Apesar da falta de documentos confiáveis, a atividade comercial dos franceses deve ter sido intensa, pois o governo português fez diversos protestos à corte francesa antes de 1516 e enviou ao Brasil, nesse ano, a expedição “guarda-costas” de Cristóvão Jacques.”
(WEHLING, A; WEHLING, M., 2005, p.46)

Como já mencionado, não só os portugueses estiveram no Brasil. Espanhóis, holandeses e franceses puseram seus pés aqui. Os cristãos franceses chegaram em uma esquadra com aproximadamente 600 pessoas no dia 10 de novembro de 1555. No dia 07 de março de 1557, já em uma esquadra com aproximadamente 300 pessoas, estavam 14 protestantes franceses ou, como eram chamados, huguenotes. Dentre estes 14, um pastor e um doutor em Teologia, enviados por João Calvino.

João Calvino

Nota Explicativa: Quem foi João Calvino?
“Quando Lutero divulgou suas 95 teses, em 1517, o francês João Calvino (1509-1564) tinha 8 anos de idade. Além dos 26 anos que separam suas convicções, como teólogo e humanista, em um ambiente em que a unidade da Igreja já estava rompida. Ao contrário de Lutero, não foram tensões espirituais as responsáveis por sua adesão à Reforma, mas sim suas convicções intelectuais e a certeza de que a verdade redescoberta estava ao alcance de quem aceitasse buscá-la. Por um tempo dividido entre a teologia, que o interessava diretamente, e o estudo do Direito, que frequentou durante dois anos por determinação do pai, após a morte deste, Calvino entregou-se integralmente aos estudos religiosos, do que resultou sua obra mais famosa, Instituição da religião cristã, publicada em 1536, quando ele tinha apenas 27 anos. O livro teve consagração imediata e promoveu o teólogo à posição de novo líder reformador. Escrito para ser compreendido fora dos círculos eruditos, o trabalho foi revisto pacientemente pelo autor até sua edição definitiva, em 1559.

Em seus debates doutrinários – e não apenas neles – Calvino mostrou-se um combatente incansável e impiedoso. Em Genebra, por exemplo, desenvolveu intensa campanha contra a prostituição, convencendo os magistrados a abrir algo como tabernas eclesiásticas, onde o consumo moderado de bebidas seria compensado com propaganda religiosa. A mudança desagradou imediatamente a população, que exigiu e obteve a reabertura das antigas tabernas. Quanto aos mais ricos, o reformador também tentou, sem sucesso, moderar seus hábitos de vida e consumo, mas encontrou forte resistência.

Em 1553, Calvino foi enfrentado pelo espanhol Miguel Servet, cuja obra atacava, diretamente, o livro Instituição da religião cristã. O “herege”, então em Viena, foi denunciado por Calvino, mas conseguiu fugir da prisão e, por razões jamais sabidas, seguiu para Genebra, onde acabou caindo nas mãos de Calvino. Por interseção do reformador, Servet foi preso, condenado e executado na fogueira, apesar da apelação do denunciante pela comutação da pena e sua transformação em uma “mais misericordiosa”, a decapitação...

Em meados do século XVI, o calvinismo já se firmara como principal corrente da Reforma Protestante e, quando seus adeptos – por conta da perseguição e resistência que sofriam – assumiram, cada vez mais, posições radicais, o movimento teve de enfrentar, com a mesma convicção, eclesiásticos da “velha” Igreja e governantes civis." (MICELI, 2013, pp.81-82)

Escultura que representa o Primeiro Culto.

No dia 10 de março de 1557 foi realizado o primeiro culto no Brasil, na Baía de Guanabara (RJ). Um dos hinos cantados foi o Salmo 5, de acordo com o disposto no Saltério Huguenote, hinário dos franceses. Porém, os portugueses interpretaram isto como uma tentativa de a França querer tomar o país. Os franceses foram mortos e, em 1567, totalmente expulsos.

"O desembarque no forte Coligny deu-se no dia 10 de março, uma quarta-feira. O vice-almirante recebeu o grupo afetuosamente e demonstrou alegria porque vinham estabelecer uma igreja reformada. Logo em seguida, reunidos todos em uma pequena sala no centro da ilha, foi realizado um culto de ação de graças, o primeiro culto protestante ocorrido nas Américas, o Novo Mundo. O ministro Richier orou invocando a Deus. Em seguida foi cantado em uníssono, segundo o costume de Genebra, o Salmo 5: “Dá ouvidos, Senhor, às minhas palavras”. Esse hino constava do Saltério Huguenote, com metrificação de Clement Marot e melodia de Louis Bourgeois, e até hoje se mantém nos hinários franceses. Bourgeois foi diretor de música da Igreja de Genebra de 1545 a 1557 e um dos grandes mestres da música francesa no século 16. A versão mais conhecida em português (“À minha voz, ó Deus, atende”) tem música de Claude Goudimel (†1572) e metrificação do Rev. Manoel da Silveira Porto Filho. Em seguida, o pastor Richier pregou um sermão com base no Salmo 27:4: “Uma coisa peço ao Senhor e a buscarei: que eu possa morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a beleza do Senhor e meditar no seu templo”. Após o culto, os huguenotes tiveram sua primeira refeição brasileira: farinha de mandioca, peixe moqueado e raízes assadas noborralho. Dormiram em redes, à maneira indígena. A Santa Ceia segundo o rito reformado foi celebrada pela primeira vez no domingo 21 de março de 1557."
(Daniele Pereira – Portal Blog: IP Esperança)

Em 1630, há a chegada dos holandeses no Nordeste, tendo permanecido até 1654, quando foram expulsos pelos portugueses. Eles fundaram 22 congregações da Igreja Reformada no Brasil, ficando todas, a princípio, sob jurisdição do Presbítero de Amsterdã. Não há registros de atividades protestantes no Brasil no século XVIII (1700-1799). Uma das prováveis causas é a presença do Santo Ofício da Inquisição, que tinha como um dos objetivos extinguir protestantes, considerados hereges.
 
Santo Ofício da Inquisição

“Às vezes, a vida cotidiana da colônia parecia estar irreversivelmente demonizada. Na mentalidade popular, delineava-se, nítida, a visão do inferno. O Compêndio Narrativo do Peregrino da América, que coletou inumeráveis tradições populares em voga no primeiro quartel do século XVIII, ficou a imagem de um dos infernos possíveis: um inferno semelhante ao que as populações européias tinham em seu acervo imaginário, e que eruditos da Baixa Idade Média incorporavam à demonologia.” (MELLO, 1986, pp.144-145)

SÉCULO XIX
“D. Maria de Portugal (a Rainha louca): Rainha de Portugal desde 1777, porém, devido a problemas de saúde, a regência do Reino é assumida por seu herdeiro, Dom João. Foi alcunhada de Maria, a Louca por conta das célebres crises de alucinação em público. Extremamente católica, assim como toda a Família Real, Maria I chegou ao Brasil em 1808 contra a própria vontade. Inúmeros são os relatos de sentimento de estranheza por parte dos brasileiros à Rainha.

D. João VI (o príncipe Medroso): Dom João assumiu a regência do Reino no lugar da mãe, Dona Maria, que padecia de problemas psicológicos. Em meio às crises conjugais com a esposa, Carlota Joaquina, (resultado de um casamento que revela-se meramente político) Dom João tem o desafio de transferir a Coroa para os Trópicos e mantê-la estável e assegurar o domínio sobre a nobreza.

Napoleão Bonaparte: O "Vendaval que varreu a Europa", Napoleão Bonaparte subjugou grande parte do "Velho Continente" durante seu temido reinado. O ex-general, ao decretar o Bloqueio comercial à Inglaterra, impulsionou a transferência da Corte para o Brasil.

Carlota Joaquina: Mulher de D. João. Casaram-se por interesse de suas famílias. Tinha a fama de ser muito feia, possuía um gênio muito forte e pretendia sempre impor suas vontades.” (GOMES, 2007, Release)

No ano de 1808, o monarca português D. João VI e sua comitiva chegam ao Brasil. Dois anos depois, mais precisamente no dia 19 de fevereiro de 1810, este assina o ‘Tratado de Aliança e Amizade e Comércio e Navegação’, o que contribuiu para o estabelecimento do culto protestante no Brasil. Com este tratado, foi permitido aos ingleses realizarem seus cultos anglicanos na colônia de Portugal. No tratado estabelecia que os ingleses que viviam no Brasil teriam liberdade de consciência e de culto religioso, devendo seus locais de culto assemelhar-se a domicílios particulares (Art.º 12). Além disso, no Art. 9º o príncipe regente comprometia-se a não permitir o estabelecimento de Inquisição nos Estados Unidos da América Meridional.


Em 1820 analisa-se a chegada de outros imigrantes ingleses, que vão morar em Nova Friburgo (RJ). No dia 07 de setembro de 1822 temos a Independência do Brasil, fato que encoraja novos imigrantes ingleses a virem ao país. Em 1824 chega ao Brasil o presbítero Friedrich Oswald Sauerbronn (Foto 01 abaixo), que pastoreou por 40 anos Nova Friburgo.


Em 1855 temos a chegada do casal Dr. Robert e Miss. Sarah Kalley (Foto 02 acima), de suma importância à Igreja.

"Tendo vindo ao Brasil em 10 de maio de 1855, o recém-chegado casal Dr. Robert e Miss. Sarah Kalley logo fundou a Igreja Evangélica Fluminense e Pernambucana - primeiras atividades da Igreja Evangélica em língua portuguesa no Brasil. Não poderia ser diferente... Nossa Igreja Congregacional tem os Salmos e Hinos como sua coletânea oficial de cânticos. O Hinário foi publicado em 1861 com 50 cânticos (18 Salmos e 32 Hinos), e manuseado,  pela  primeira vez, em 17 de Novembro de 1861 - seis anos depois da chegada do casal ao Brasil.  Naquela oportunidade foi cantado o hino nº 609 (Convite aos Meninos), cuja autoria é atribuída à Sarah Kalley. Esta coleção foi a primeira coletânea de Hinos Evangélicos em língua portuguesa, organizada no Brasil. Vinte e um anos foi quanto durou o ministério do casal abençoador do povo brasileiro da época e, como foi transmitido através do Espírito Santo de Deus, perdura até nossos dias (150 anos depois), e continuará - uma vez que se trata da Palavra de Deus - entoada nos cânticos. Em sua 2ª edição, no ano de 1865, já continha 83 cânticos. Nas edições posteriores foram sendo acrescentados diversos hinos – tanto que em 1919 já contava com 608 músicas, cuja edição foi organizada pelo Dr. João Gomes da Rocha, que foi o principal responsável pela publicação daquela coletânea. Nosso Hinário contém melodias de diversas origens como Brasileira, Portuguesa, Alemã, Austríaca, Espanhola, Francesa, Inglesa, Americana, dentre outras. Ele apresenta uma diversidade que o torna ainda mais rico do ponto de vista musical. Em meados do século XX o Hinário passou por uma importante revisão realizada por uma equipe de especialistas em música, tornando a coletânea ainda mais funcional para ser utilizada em nosso dia-a-dia, com a sua textualidade de versos aprimorada. Graças damos a Deus por homens e mulheres que trabalharam desde o início até agora para a preservação do nosso Salmos e Hinos. É certo que o Senhor a muitos já chamou. A nós cabe preservarmos este tesouro musical e poético. Os Salmos e Hinos foi, inclusive, usado como primeiro Hinário por diversas denominações. Atualmente, no seu aniversário de 150 anos (17/11), e com 677 Cânticos, é considerada uma das mais belas coleções de Hinos já produzida para o Cristão-protestante do Brasil. Hoje está na sua 5ª edição, e contém 28 Salmos, 622 Hinos e 27 Coros." (Fonte: Portal UHC)

Trinta e quatro anos após a chegada do presbítero, em 1858, chega ao Brasil a ‘Igreja Congregacional’ e, como citado acima, em 1861 há o lançamento do primeiro hinário evangélico brasileiro ‘Salmos e Hinos’. Em 1862 chega ao Brasil a ‘Igreja Presbiteriana’, a Primeira Igreja Presbiteriana do Brasil, localizada no Rio de Janeiro.  Foi fundada por Ashbel Green Simonton (missionário estadunidense) que chegou ao Rio de Janeiro no dia 12 de agosto de 1859. É a oitava maior denominação protestante do país e a maior denominação presbiteriana. No Brasil, segundo o Censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística em 2010, possui aproximadamente 1.011.300 membros distribuídos em mais de 10.407 igrejas locais e congregações em todo o Brasil.

“A Igreja Presbiteriana do Brasil é uma federação de igrejas que têm em comum uma história, uma forma de governo, uma teologia, bem como um padrão de culto e de vida comunitária. Historicamente, a IPB pertence à família das igrejas reformadas ao redor do mundo, tendo surgido no Brasil em 1859, como fruto do trabalho missionário da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos. A Igreja Presbiteriana do Brasil é a mais antiga denominação reformada do país, tendo sido fundada pelo missionário Ashbel Green Simonton (1833-1867), que aqui chegou em 1859. Mais tarde, ao longo do século 20, surgiram outras igrejas congêneres que também se consideram herdeiras da tradição calvinista. São as seguintes, por ordem cronológica de organização: Igreja Presbiteriana Independente do Brasil (1903), com sede em São Paulo; Igreja Presbiteriana Conservadora (1940), com sede em São Paulo; Igreja Presbiteriana Fundamentalista (1956), com sede em Recife; Igreja Presbiteriana Renovada do Brasil (1975), com sede em Arapongas, Paraná, e Igreja Presbiteriana Unida do Brasil (1978), com sede no Rio de Janeiro.” (Fonte: Portal IPB)

Em 1864 o presbiteriano Ashbel Green Simonton funda o primeiro jornal evangélico no Brasil, o ‘Imprensa Evangélica’. No dia 01º de janeiro de 1886 temos a fundação, pelo missionário norte americano John James Ranson, do jornal ‘Expositor Cristão’, que existe até hoje (http://www.expositorcristao.com.br/). Além deste, foi fundado o jornal ‘Echos da Verdade’ pelo missionário batista norte-americano Zacarias Clay Taylor, este que em 1882 ajudou na fundação da Primeira Igreja Batista Brasileira em Salvador, na Bahia, juntamente com o casal William Buck Bagby e Anne Luther Bagby, e o ex-padre Antônio Teixeira de Albuquerque.
Ashbel Green Simonton



Zacarias Clay Taylor
MAIS ALGUMAS DATAS IMPORTANTES
1871: chega ao Brasil a ‘Igreja Metodista’ e a ‘Igreja Batista’.
1887: surgimento do gramofone.
1889: criado o jornal ‘O Puritano’.
1890: chega ao Brasil a ‘Igreja Episcopal’.
1892: criado os jornais ‘O Cristão’ e ‘O Estandarte’.
1894: criado o jornal ‘As Boas Novas’, por Salomão Luiz Ginsburg.

SÉCULO XX
No ano de 1901 ocorre a primeira gravação de uma música evangélica, em São Paulo. Um irmão chamado José Celestino de Aguiar reuniu seus familiares e os do reverendo Bellarmino Ferraz e formou um coral a quatro vozes, que gravou o hino ‘Se nos cega o sol ardente’, do ‘Salmos e Hinos’, primeiro hinário evangélico brasileiro, cuja primeira edição surgiu em 1861. José D’Araújo Coutinho Junior (Agudos-SP) foi o responsável por raspar a cera de um cilindro usado, gravando, assim, a música do coral.


1902: primeira gravação de uma música secular, feita em cilindro.
1910: discos de 78 rpm são adotados pelas gravadoras.
Rua Siqueira Mendes, 79 - Belém do Pará
Local onde a partir de 1911 foram realizados os primeiros cultos da Assembléia de Deus.


No dia 07 de setembro de 1922 ocorre a primeira transmissão radiofônica, feita no Rio de Janeiro, então capital do Brasil. No caso dos evangélicos, a primeira transmissão só ocorreria no dia 26 de maio de 1929 através da Rádio Club do Brasil (RJ), realizada pelo reverendo Rodolfo Hasse, da Igreja Luterana, que conseguiu 30 minutos.


1939: televisão no Brasil.

Em 1948 temos o lançamento do LP (Long Player) pela gravadora norte-americana Columbia Records. Era feito de vinil, plástico mais resistente, mais leve, cabia mais músicas, tinha 33 1/3 de RPM e era de melhor qualidade sonora. Logo, veio o toca-discos. Neste ano há o lançamento da primeira gravadora evangélica no Rio de Janeiro, a Gravadora Atlas (Departamento de Rádio e Gravações do Serviço Noticioso Atlas). Seu primeiro lançamento foi o segundo trabalho de Feliciano Amaral (Mensagem Real/Vem a Cristo! – 78 rpm). Um ano depois, em 1949, temos o surgimento do compacto vinil e o surgimento as primeiras capas personalizadas no Brasil.


O ano de 1950 foi importante para os cristãos, visto a inauguração da segunda gravadora evangélica brasileira, a CAVE (Centro Áudio-Visual Evangélico), na cidade São Paulo-SP. No contexto geral, analisamos a inauguração da ‘TV Tupi’ de São Paulo, pelo jornalista Assis Chateaubriand.

1951: lançamento do primeiro LP brasileiro ‘Carnaval em long player’.
1952: inauguração da ‘TV Paulista’.
1953: inauguração da ‘TV Record de São Paulo’.
1955: inauguração da ‘TV Rio de Janeiro’ e da ‘TV Itacolomi de Belo Horizonte’. Neste ano também analisamos o lançamento do primeiro LP evangélico brasileiro pelo cantor Luiz Agapito de Carvalho ou simplesmente Luiz de Carvalho (16/05/1925 - 17/11/2015 | velado na Igreja Batista Paulistana e sepultado no Cemitério Vila Euclides em São Bernardo do Campo).


"Em meados dos anos 50, mais precisamente em 1955 o cantor e Evangelista Luiz de Carvalho foi impulsionado a gravar, muitos irmãos gostavam de ouvi-lo e pediam a ele que gravasse, assim nasceu sua primeira gravação para o público evangélico, junto a necessidade da criação de uma gravadora que veio logo em seguida, surgia assim a Boas Novas (O Disco da Família Cristã). ” (Fonte: Portal Acervo Gospel).


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1957: criação da terceira gravadora evangélica, Louvores do Coração, de Jônathas de Freitas.

Capa e Contracapa do Primeiro LP Evangélico Brasileiro
Luiz de Carvalho - Boas Novas - 1958 - Gravadora Califórnia
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Em 1958 apreciamos o lançamento do segundo LP de 'Luiz de Carvalho - Boas Novas’ pela Gravadora Boas Novas, álbum este que havia sido considerado por anos como o primeiro a ser gravado, tendo no repertório ‘Toma-me As Mãos’, ‘O Poder de Jesus’, ‘Grandioso És Tu’, ‘Para Os Montes Olharei’, ‘Confiança’, ‘Manso E Suave’, ‘Foi Na Cruz’ e ‘Jerusalém’. Sim! Luiz de Carvalho foi o primeiro cantor a gravar o clássico ‘Grandioso És Tu'. Neste mesmo ano, a gravadora CAVE muda-se para a cidade de Campinas-SP. Em fevereiro de 1959, é inaugurada a gravadora Califórnia, pelo compositor Mário Vieira, além da criação do periódico ‘Louvor Perene’. Além disso, inaugura-se a ‘TV Excelsior’ de São Paulo.


“Durante os anos JK, a música brasileira conheceu uma inovação: a Bossa Nova. Até esse momento, a produção musical brasileira era basicamente o samba-canção e o bolero, com letras expressando amarguras e tristezas. No início dos anos 1950, cantores como Johnny Alf, Dick Farney, Lucio Alves, Sylvinha Telles e Tito Madi, influenciados pela música norte-americana, atraíram a atenção de moças e rapazes de classe média do Rio de Janeiro. Em 1956, alguns jovens, amantes de música, se reuniram no apartamento de Nara Leão. Entre eles Carlos Lyra, Roberto Menescal e Renaldo Bôscoli. Vivia-se os anos JK e havia um sentimento entre a juventude de que era preciso ser moderno e estar atualizado com as novidades do mundo. O movimento de renovação da música brasileira ocorreu em 1958. Nesse ano, a cantora Elizeth Cardoso lançou um disco com a música ‘Chega de saudade’, de Tom Jobim e Vinícius de Morais. Acompanhando no violão, João Gilberto tocou com uma batida diferente. Essa maneira original de tocar samba, com uma batida inovadora no violão, foi chamada de Bossa Nova. No ano seguinte, João Gilberto lançou seu primeiro disco e a Bossa Nova ganhou o gosto das classes médias brasileiras. Chegou, inclusive, a ser conhecida mundialmente. Seduzidos pela “batida da Bossa Nova”, os jovens abandonaram o acordeão – muito em voga na época – para aprender a tocar violão. A influência dos estilos musicais norte-americanos, sobretudo o jazz e suas variações, era evidente, mas foram adaptados ao ambiente cultural brasileiro. Os novos artistas reinventaram a maneira de tocar, cantar e compor o samba. Em vez de letras repletas de tristezas, amarguras e tragédias, estavam presentes temas como o amor, a natureza e alegria. A parceria Tom Jobim com Vinicius de Morais produziu músicas até hoje cantadas, como ‘Chega de saudade, ‘Se todos fossem iguais a você’ e uma das canções mais reproduzidas no mundo: ‘Garota de Ipanema’.” (FERREIRA, 201?, pp.09-10)

Sim! A Música Evangélica Brasileira também entrou nesta modernidade, pouco, mas permitiu a entrada da Bossa Nova em discos, como em compactos do cantor Silvinho (SOUSA, 2011, p.47). Mas é notório que não foi em um geral, até porque tudo que era diferente do tradicional (músicas calmas, Salmos) era considerado pecado, ou seja, a Bossa Nova não era vista como algo vinda de Deus e, sim, algo mundano que jamais poderia entrar no meio evangélico, assim como a televisão (coisa do capeta). Entre os anos 50 e 60, o único estilo “diferente” que encontramos nos álbuns evangélicos é o seresteiro.

Nos anos 60, temos a entrada de outros estilos no meio evangélico, como guarânia, marcha, country e valsa (SOUSA, 2011, p.47). Em 1960, temos a inauguração das ‘TV Paranaense’, ‘TV Cultura de São Paulo’ e ‘TV Itapoá de Salvador-BH’. E em 1961 é lançado o primeiro livro sobre a história da música evangélica “Música Sacra Evangélica no Brasil” pela Editora Kosmos, de autoria de Henriqueta Rosa Fernandes.


Ao contrário do que se imaginava, Sara Araújo não foi a primeira cantora evangélica a gravar discos no Brasil, independente do formato (LP, 78 rpm). Seu primeiro trabalho foi o compacto ‘Meu Jesus’ lançado em 1965 independentemente, tendo seu primeiro LP sido lançado em 1969, com o nome ‘Rosa da Manhã’ pela Gravadora Bompastor. A primeira mulher a gravar um LP em nosso país foi Edna Harrington (LP ‘Meu Brasil’ – sem ano confirmado – entre 1961 e 1963). Segundo Henriqueta Rosa Fernandes, seu primeiro disco (78 rpm) foi prensado em 1948 pela gravadora Atlas, ligada à Convenção Batista Brasileira, tendo alcançado na década de 1950 popularidade semelhante ao pastor Feliciano Amaral na divulgação em programas evangélicos de rádio (FERNANDES, 1961, p.375). Entretanto, antes de Edna Harrington, teve Maria da Glória de Souza que lançou o primeiro disco em 78 rpm em 1943.
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Praça Edna Harrington - Homenagem à cantora.

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1962: inauguração da ‘TV Gaúcha’.
1968: criação da gravadora Estrela da Manhã, de Matheus Iensen.

1970: inauguração da ‘TV Gazeta de São Paulo’
19/02/1972: televisão a cores chega ao Brasil.
1975: inauguração da ‘Rede OM de Londrina-PR’ e ‘TVS Rio’.
1979: inauguração da ‘TV Campinas’.


No ano de 1987, os primeiros CDs seculares “chegam” ao Brasil. Neste mesmo ano, cria-se a gravadora evangélica MK Publicitá (hoje MK Music), idealizada para divulgar os discos de Marina de Oliveira. Mas com o tempo, vieram as contratações, como Cassiane, João Marcos, Fernanda Brum, que começaram a torná-la em uma grande gravadora. Nos anos 90, não há dúvida que quem se sobressaiu no Mercado Fonográfico Evangélico foi esta gravadora, pelas outras contratações, inovações na arte dos trabalhos e os famosos ‘Cantas’ (Canta Rio, Canta Brasil). Seu último grande evento foi o Canta Zona Sul na Praia de Copacabana no ano de 2004. Com a alta deste mercado, outras gravadoras abriram suas portas para os cantores evangélicos, como Universal, Som Livre e Sony Music, o que fez com que a MK deixasse de ser a principal gravadora.

 No dia 27 de julho de 1989, Marina de Oliveira apresenta-se no Canecão, sendo a primeira cantora evangélica a se apresentar nesta casa de shows. Este evento foi o lançamento de seu terceiro álbum intitulado ‘Hinos: Canções de Luz’. Voltou a se apresentar na mesma casa de shows no dia 09 de agosto de 1993 para o lançamento de seu quinto álbum chamado ‘Onda de amor’, show este que originou o próximo álbum, o ‘Ao vivo’, lançado em 1994, primeiro álbum da cantora a ser lançado também em CD. Vale ressaltar as trocas de roupas, ritmos ousados usados pela mesma em seus shows, o que fez com que ela fosse chamada de ‘Madonna gospel’.

Em 1990, os primeiros CDs evangélicos “chegam” ao mercado. No mesmo ano, Estevam Hernandes e Antônio Carlos Abbud criam a Gravadora Gospel Records, sendo considerada uma das principais por trás do movimento gospel e do lançamento de artistas do rock cristão brasileiro (como Oficina G3, Brother Simion e Katsbarnea). Em junho de 1990 a gravadora lançou seu primeiro disco, o álbum ‘Princípio’ da banda de rock Rebanhão, na época a mais famosa da cena cristã. Em 2010, a Gospel Records encerrou oficialmente suas atividades.

Dois anos depois (1992), temos a criação da gravadora evangélica Line Records e realização do primeiro evento evangélico na casa de shows Imperator (Nascer, Viver... e Viver) pela MK Publicitá. E em 1995, os CDs invadem o mercado mundial.


PANORAMA GERAL – CONSIDERAÇÕES FINAIS
 “Ao contrário do que se possa imaginar, os evangélicos produziram muita música de boa qualidade, seja nas letras, no vocal ou na parte instrumental. Gravaram nos melhores estúdios da época, como por exemplo, a RCA Victor, Odeon e Continental. Contaram com maestros e o profissionalismo de cantores e músicos evangélicos, muitos dos quais formados na área e professores do curso de música de escolas e universidades.” (SOUSA, 2011, p.33)

Anos 1950:
Apesar da existência de rock and roll e twist, as músicas eram mais suaves, vide a postura mais conservadora, além do estilo seresteiro, quase que predominante em todos os cantores evangélicos desta geração. Em resumo, eram músicas evangélicas muito influenciadas pela música clássica. As gravações mais comuns são cânticos de hinários como ‘Salmos e Hinos’ e ‘Cantor Cristão’.

Anos 1960:
Foi a época em que os cantores começaram a gravar músicas no estilo guarânia, marcha, country e valsa, além da presença de samba, chorinho e bossa nova, analisados apenas em discos do cantor Silvinho. Os instrumentos mais utilizados são harpa, órgão, piano e sanfona (ou acordeon, acordeão e gaita – dependendo da região brasileira). Os instrumentos quase não utilizados foram bateria, guitarra, violão e percussão.

Anos 1970:
“Mesmo havendo diversas emissoras de TV, os evangélicos ficaram longe de sua programação. Aliás, muitas igrejas combateram esse veículo de comunicação e até proibiram seus membros de comprarem aparelhos ou assistirem seus programas” (SOUSA, 2011, p.52). Porém, foi considerada a época mais diversificada, explorando ritmos como guarânia, chorinho, sertanejo, rock, blues, jazz, country, western, bolero, tango, valsa, marcha etc. “Em suma, foi um período bastante fértil na música evangélica brasileira e, possivelmente, muito rentável. Vale ressaltar que a população de evangélicos, no início desta década, segundo o IBGE, ultrapassava três milhões de pessoas” (SOUSA, 2011, p.51). Analisamos também o início da gravação de álbuns instrumentais e infantis, como ‘Arautos do Rei – Cantam para as crianças’ (1974).


Anos 1980:
Nesta época, a música evangélica internacional já estava em alta. A influência é notória. Muitos de nossos cantores fizeram suas versões de milhares de músicas de consagrados nomes do exterior, como Sandi Patty, Amy Grant e Michael W. Smith. Os campeões de versões são Marina de Oliveira, Cristiane Carvalho, Cristina Mel e Grupo Prisma Brasil. Também foi uma fase rica em ritmos nacionais, como xote, milonga, frevo, vanerão, pagode de viola, repente, coco de roda, xaxado, ciranda, pagode, catira, bumba-meu-boi e folia de reis. Os ritmos internacionais mais utilizados foram bolero, guarânia, valsa, rock, country e blues.

Anos 1990:
“De repente pareceu que as pessoas do mundo, curiosas e admiradas, descobriram que os evangélicos eram capazes de produzir uma música interessante, moderna, contextualizada e de boa qualidade” (SOUSA, 2011, p.133). Os anos 90 são considerados por muitos como o Apogeu da Música Gospel Brasileira. Os ritmos mais utilizados: axé music, black music, bossa nova, country, forró, funk carioca, instrumental, louvor e adoração, metal, MPB, pentecostal, pop, rap, reggae, regional, rock, sacro, samba, pagode e sertanejo.

Anos 2000:
“Comparando a música desse período com os anteriores, não se pode afirmar categoricamente, em termos gerais, que foi superior às demais décadas, ou que produziu avanços mais significativos, ou até mesmo que tenha quebrado maiores barreiras. Realmente continuamos acompanhando as tecnologias de gravação e divulgação, mas por outro lado parece que regredimos em relação à qualidade das letras, variedade de ritmos e aspectos culturais.” (SOUSA, 2011, p.262)

- Alta projeção na mídia.
- A dita ‘música comercial’ chegou ao meio gospel.
- Há o esquecimento das outras décadas, privilegiando apenas o presente.
- Fase em que a expressão ‘ministério de louvor e adoração’ tornou-se sinônimo de vendas.
- Música evangelística em baixa.
- Crescimento na gravação de álbuns Ao Vivo.
- Ritmos mais utilizados: axé music, Black music, country, forró, funk carioca, louvor e adoração, metal, MPB, pentecostal, pop, rap, reggae, regional, rock, sacro, samba, pagode e sertanejo.

BIBLIOGRAFIA
AMARAL, Daniel. Música e Teologia: a música evangélica brasileira. Origem, apogeu e futuro. Fonte Editorial, São Paulo: 2012.
GOMES, Laurentino. 1808: Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil. Editora Planeta, São Paulo: 2007.
FERNANDES, H.R. Música Sacra Evangélica no Brasil. Editora Kosmos. 1961.
FERREIRA, Jorge. República Liberal-Democrática (1945-1964). Rio de Janeiro, 201?.
MICELI, Paulo. História Moderna. Editora Contexto, São Paulo: 2013.
MELLO, Laura. O diabo e a terra de Santa Cruz. Companhia das Letras, São Paulo:1986.
SOUSA, Salvador. História da Música Evangélica no Brasil. Editora Ágape, São Paulo: 2011
WEHLING, Arno; WEHLING, Maria José. Formação do Brasil Colonial. Editora Nova Fronteira, São Paulo.

SITES
http://www.dicionariodoaurelio.com/
http://www.acervogospeled.blogspot.com.br/

FONTE DAS FOTOS UTILIZADAS
- Foto 01:

- Foto 02:

- Foto ‘Monstros Marinhos’:

- Retrato de Hans Staden feito por H. J. Winkelmann, em 1664.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Hans_Staden

- João Calvino

- Escultura que representa o Primeiro Culto.

- Santo Ofício da Inquisição

- Tratado de Aliança e Amizade e Comércio e Navegação

- Presbítero Friedrich Oswald Sauerbronn.

- Ashbel Green Simonton

- A Imprensa Evangélica I

- A Imprensa Evangélica II

- A Imprensa Evangélica III

- A Imprensa Evangélica IV

- Zacarias Clay Taylor

- A História do Natal

- Luiz de Carvalho

- Louvores do Coração

- Livro ‘Música Sacra Evangélica no Brasil’

- Edna Harrington

- Estrela da Manhã

- Arautos do Rei – Cantam para as Crianças




[1] As Cruzadas foram guerras entre católicos e muçulmanos (árabes/turco-otomanos) durante a Idade Média (ou Medieval) com o intuito de libertar os quatro reino latinos (Condado de Edessa, Principado de Antioquia, Reino Latino de Jerusalém) dos chamados ‘hereges’.
[2] “Tomé de Souza foi político português, militar e primeiro governador-geral do Brasil. Foi enviado ao Brasil pela corte portuguesa em março de 1549. Sua missão era estabelecer um novo sistema de administração política no Brasil: o governo-geral. Atuou também no combate aos indígenas rebeldes e na defesa militar do litoral brasileiro. A expedição chefiada por Tomé de Souza, que chegou à Bahia em 1549, contava com cerca de mil homens.” (Portal Sua Pesquisa)

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Autor do Artigo: Raphael Paiva
(Criador do Blog | Professor de História e Inglês | Responsável pela correção Ortográfica)

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