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segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

FARAÓ DJOSER E ARQUITETO IHMOTEP: DE UM PROTÓTIPO DE PIRÂMIDE AO ESTÍMULO DE UMA EXAGERADA AMBIÇÃO [TCC/Raphael Paiva]

FARAÓ DJOSER E ARQUITETO IHMOTEP: DE UM PROTÓTIPO DE PIRÂMIDE AO ESTÍMULO DE UMA EXAGERADA AMBIÇÃO






Projeto de Trabalho de Conclusão de Curso apresentado na Faculdade de Licenciatura Plena em História do Centro Universitário Augusto Motta – UNISUAM - como requisito básico para a conclusão do Curso.






RIO DE JANEIRO
2016
Raphael Paiva Peres da Silva



FARAÓ DJOSER E ARQUITETO IHMOTEP: DE UM PROTÓTIPO DE PIRÂMIDE AO ESTÍMULO DE UMA EXAGERADA AMBIÇÃO


Trabalho de conclusão de curso de Licenciatura Plena em História apresentado ao Centro Universitário Augusto Motta como requisito parcial para a obtenção do título de Professor de História.


Aprovado em: 19 de dezembro de 2016.


BANCA EXAMINADORA

Professor Dr. Leonardo Santana da Silva – UNISUAM

Professora Dra. Adriana P. Ronco – UNISUAM

Professora Dra. Marilene Antunes Sant´Anna – UNISUAM


RIO DE JANEIRO
2016


AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, agradeço a minha mãe, Debora Paiva, e a meu pai, Valdir Peres: bases da minha vida, bases da minha Educação, bases de tudo que sou hoje. Junto com estes, há mais duas pessoas que significam muito em minha vida: minha avó, Maria das Neves (Nininha), e meu avô, José Paiva (in memoriam). Tudo que faço e todas minhas escolhas são pensadas nestas quatro pessoas. “Há amigos mais chegados que irmãos”, ela me disse isto uma vez. Apesar disto, agradeço a minha irmã, que me suporta há 27 anos, e ao meu cunhado, que me suporta há 12 anos. Doutora Sônia Assis não poderia ficar de fora deste trabalho. Ela tem me suportado, ouvindo-me, aturando-me, aconselhando-me, dando puxões de orelhas.

Agradeço aos meus poucos, mas valiosos amigos, que têm me suportado. Eu sei que é difícil conviver comigo, por isso digo que vocês são heróis: Paulo Jorge, Helaine Maia, Francalina Medeiros, Lucas Soares, Henrique Eldinias e Larissa Azevedo. Agradeço aos que foram chegando depois e que se tornaram especiais: Valmira, Jefferson Paulo, Cleber Gomes, Natalia Pitanga, Paula Assimos, José Mario, Renata Felix, Luis Felipe, Filipe Oliveira, Ronald Marcondes e George Andrade, Joelson Gama e Jozemar Ramalho.

Agradeço aos professores que me fizeram crescer em todo os aspectos nestes três anos. Cada palavra, cada abraço, cada beijo, cada lição de moral (poucas), tudo serviu para o meu crescimento como cidadão. Logo, obrigado: Doutora Adriana Ronco, Doutora Marilene Antunes, Mestre Waldirene Araújo, Doutor Leonardo Santanna, Professora Maria Helena, Professor Eduardo Nogueira, Professor Edelberto Ferreira e Professor Luiz Antonio.

Dentro da Faculdade, algumas pessoas foram essenciais para minha sobrevivência, visto os ocorridos do dia a dia. Pessoal Áudio Visual (Philippe Maxwell), Infraestrutura Acadêmica (Robson Calixto, Leonardo de Melo, Rodrigo Torres e Thiago de Jesus), Cantina (Maria Eva, Graça Rodrigues e Geruza Raquel) e Segurança (Luiz Otavio e Jaime).

Agradeço também a: Rafael ‘Palito’, meu excelente professor do Estágio, e a duas turmas maravilhosas que eu tive a oportunidade de conviver: 8º e 9º anos. Edinho e D. Penha (Copiadora Estrela), que estiveram comigo e suportaram meus dias alegres e tristes.

Todos estes agradecimentos não teriam sido possíveis se não fosse um em especial: Obrigado, Meu Deus, por ter me dado Saúde para passar por esta fase em minha vida!




























“... but I don’t want easy. Easy doesn’t make you grow! Easy doesn’t make you think!”

“... mas eu não quero fácil. Fácil não te faz crescer! Fácil não te faz pensar!”
(Madonna)


FARAÓ DJOSER E ARQUITETO IHMOTEP: DE UM PROTÓTIPO DE PIRÂMIDE AO ESTÍMULO DE UMA EXAGERADA AMBIÇÃO
Raphael Paiva Peres da Silva
RESUMO: A evolução arquitetônica do Antigo Egito não teria sido contemplada se não fosse o pioneirismo de Faraó Djoser e seu Arquiteto Ihmotep. O presente trabalho visa mostrar o legado cultural da Terceira Dinastia, apontando seus principais atores sociais e a construção da primeira pirâmide, a Pirâmide de Degraus de Sakkara. Além disso, o trabalho intenta evidenciar a ambição, por parte dos outros faraós, de superar, com suas construções, a primeira Pirâmide, visto a importância política e religiosa da edificação de suas tumbas. Para isto, ressalta-se a evolução dos primeiros túmulos (Monte de terra e Mastabas) até chegar às Pirâmides e a importância de Ihmotep não só na Sociedade Egípcia, posto que este se torna deus greco-romano da Medicina, sendo, pela Historiografia, considerado mais importante que Faraó Tutankamon. Como Metodologia, utiliza-se como base as entrevistas de oito pesquisadores (Historiadores, Arqueólogos e/ou Egiptólogos) concedidas ao Documentário da Dicovery Channel ‘Egito Revelado: Pirâmides’ e compara-se com os treze livros utilizados na Bibliografia.

PALAVRAS-CHAVE: Faraó, Djoser, Ihmotep, Pirâmide, Saqqara

ABSTRACT: The Ancient Egypt’s Architectural evolution would not have been contemplated without the pioneerism of Pharaoh Djoser and his Architect Ihmotep. The present job aims to show the cultural legacy of the Third Dynasty, pointing out its main characters and the construction of the first Pyramid, the Pyramid of Steps of Sakkara. In addition, the paper attempts to highlight the ambition (from the other pharaohs) arising from the construction of this first Pyramid, given the political and religious importance of the building of its tombs. For this, it is emphasized the evolution of the first tombs (Mount of earth and Mastabas) until arriving at the Pyramids and the importance of Ihmotep not only in the Egyptian Society, since he becomes Greco-Roman god of Medicine, being, by Historiography, considered more important than Pharaoh Tutankhamun. As a Methodology, the interviews of eight researchers (Historians, Archaeologists and/or Egyptologists) granted to the Discovery Channel Documentary 'Egypt Revealed: Pyramids' are used as basis and compared to the eleven books used in the Bibliography as well.

KEYWORDS: Pharaoh, Djoser, Ihmotep, pyramid, Saqqarah


Foto/Fonte: http://www.aleidaatracao.blogspot.com.br/



INTRODUÇÃO
Egito: um lugar que retoma um tempo e um estilo de Sociedade que nos pensar ativamente. “Assim é o Egito, um desafio diante de todos, uma cultura cujo halo de mistério mergulha profundamente no tempo, provocando a impressão de maravilha e o assombro no homem moderno” (VALLEJO, 2005, p.23). Uma sociedade tão antiga, mas tão presente; uma sociedade cheia de mistérios que nos faz pensar até hoje. Como bem ressalta Sérgio Pereira Couto:

É tanta a atração, que não há como ficarmos inertes a esse passado. Só ao imaginarmos que as pirâmides e demais monumentos foram erguidos num tempo em que não havia nem sombra da tecnologia de hoje, coloca-nos cara a cara com os limites humanos e vemos como os egípcios conseguiram conquistar o que sempre almejaram: a imortalidade. (COUTO, 2008, p.7)

A definição relativamente básica de Antigo Egito é que foi uma civilização da Antiguidade Oriental do Norte da África erguida ao longo do Rio Nilo, tendo sido este um dos principais fatores de seu crescimento quando se alcança o controle das inundações que ocorriam todo ano. Sociedade esta que desapareceu há aproximadamente vinte séculos (VERCOUTTER, 1980, p.7). Suas fronteiras eram: Mar Mediterrâneo (Norte), Deserto da Líbia (Oeste), Deserto Oriental Africano (Leste) e a primeira catarata do Nilo (Sul). Sua formação é datada em aproximadamente 3200 a.C., com a unificação política, sob o reinado do primeiro faraó (Narmer), do Alto e Baixo Egito, tendo o governo dos faraós terminado em 31 a.C., com a dominação romana oriunda da derrota de Cleópatra VII na Batalha de Áccio (guerra civil entre Marco Antônio e Otaviano – Imperador Augusto).

A História é um processo em construção permanente. Processo marcado por temporalidades e delimitações espaciais. Processo construído por sujeitos individuais e sujeitos coletivos. Dinâmica complexa, que envolve ideologias, cultura, vida privada, ações públicas, representações, imaginários, lutas, reações, resistências, valores, instituições, entre múltiplas variáveis que constituem a complexa rede da inserção do homem na vida em comunidade através do tempo. (DELGADO, 2008, p.129)

Como foco da análise, investigo a III Dinastia (Antigo Império – Egito/Período Pré-Dinástico), verificando a importância de seus dois principais representantes: o segundo faraó da dinastia, Djoser[1] (Netjerirkhet) - que veio depois de Sanakht (ou Nebka) - e seu arquiteto e futuro deus greco-romano Ihmotep[2], os quais, emparelhados, construíram a Pirâmide de Degraus de Sakkara[3].

A evolução arquitetônica do Antigo Egito não teria sido contemplada se não fosse o pioneirismo destes dois atores sociais, visto que a construção de sua tumba desencadeou um complexo processo de ambição para os outros faraós a fim de, a cada nova obra, ser maior e, assim, mostrar o poder que estes tinham diante da Sociedade. Dr. Robert Steven Bianchi ressalta no Documentário ‘Egito Revelado: Pirâmides’ pelo Discovery Channel (2002): “A inovação de Ihmotep em pedra foi revolucionária; foi como uma luz que se acendeu, uma lâmpada, porque em poucas gerações os egípcios passaram da Pirâmide de Degraus para a grande Pirâmide de Quéops”. Segundo John Baines e Jaromír Málek:

A época de Djoser foi vista mais tarde como uma idade de ouro do empreendimento e do saber. O nome de Imhotep, provável arquiteto da Pirâmide de Degraus – tinha o título de mestre escultor, entre outros -, veio a ser particularmente venerado e era, no período greco-romano, uma divindade popular, associada especialmente à cura de doenças. O seu nome encontra-se também sob a forma de grafito, num esboço do muro à volta da pirâmide do sucessor de Djoser, que foi enterrado quase de imediato numa estrutura modificada em relação ao plano original. Talvez fosse um herói dos trabalhadores da sua própria época. (BAINES; MÁLEK. 1996. p. 32)

FARAÓ: SUA IMPORTÂNCIA NA SOCIEDADE
O termo ‘faraó’ foi criado pelos gregos a partir do egípcio ‘Per-aâ’ que quer dizer ‘A Casa Grande’, isto é, o palácio. Ele era o centro de tudo o que ocorria no Antigo Egito. O Faraó não era apenas uma pessoa escolhida por Osíris cuja função era chefiar a Sociedade Egípcia por algum período. O Faraó era comparado ao Sol: quando se mostra, nasce; quando morre, se põe. Ele, junto com o Rio Nilo (regulador e fonte de vida do Egito), era o unificador (expansão, domínio e ação na paz) do país. Era uma das forças da natureza, proprietário da terra e da produção. Logo, ele era um deus e provedor dos homens. “O rei é o “senhor do universo”. Divino é seu nascimento, majestoso seu advento, esplêndido seu jubileu, sublime sua morte. Promoções, nomeações, punições, só ocorrem no Egito sob sua autoridade” (BRISSAUD, 1976, p.69).

O Faraó é o “senhor da ‘Grande Casa’” (PETIT, 1971, p.11), “Rei do Direito Divino” (BRISSAUD, 1976, p.68), “o representante de Hórus” (BRISSAUD, 1976, p.68), o “Hórus Vivo” (FLAMARION, 1982, p. 52), “a mais jovem encarnação de Hórus” e “filho de Rá” (BRISSAUD, 1976, p.68). Como menciona Will Durant: “Transformado, sob todos os pontos de vista, numa pessoa divina, o faraó era rodeado de uma multidão de servidores e de colaboradores (...)” (DURANT, Apud, BRISSAUD, 1976, p.69).  Como humano, era o rei do Delta Ocidental. Nas mãos carregava um leque e um cajado de pastor, que representavam Alto e Baixo Egito. A barba postiça significava sua divindade e o ureo[4] significava sua realeza.

Como destaca Federico A. Arborio Mella (1981, p.88): “Para manter unido um Estado assim dirigido, era necessário uma pessoa de punho forte e de grande prestígio”. O Faraó tinha que ser um homem equilibrado, com uma burocracia eficiente, soberano absoluto, ser excêntrico, visto que era ele quem escolhia os ministros, dirigia toda administração e recompensava com justiça todos os fiéis servidores do Estado. Ele era um deus - um bom deus - e máxima autoridade religiosa, que oferecia sacrifícios aos deuses (por intermédio dos sacerdotes). Era ele quem construía os templos, não os arquitetos. Ele quem enfrentava as guerras, não os generais.Suas funções consistem em assegurar a ordem, a justiça e a prosperidade material do reino, do qual ele é proprietário e senhor absoluto” (PETIT, 1971, p.11).

O EGITO SEMPRE EM EVOLUÇÃO: DO EMBALSAMENTO AOS TÚMULOS
Tendo em vista todo o poder agregado ao papel do Faraó, seu sepultamento deveria se igualar a esta importância terrena, ou seja, tanto o Embalsamento quanto à construção de sua tumba deveriam ser feitos com grandeza, luxo e ostentação. Assim como toda Sociedade, existia uma hierarquia e, logicamente, diferenças no tratamento. Não era diferente no Egito. O ritual de embalsamento não era igual para todos. Dependendo da posição social, política e recursos que o defunto possuía, era feito um tipo de Embalsamento. Mas, independentemente desta posição social, uma parte do ritual para a eternidade era obrigatória: a passagem pelo Tribunal Divino, onde era acolhido pela deusa da Verdade e da Justiça (Maet) e sob forte presidência de Osíris.

O tribunal funcionava do seguinte modo: Anúbis e Hórus colocavam em um prato da balança o coração. Se o coração se revelasse “leve como a verdade”, Tot, o escriba divino, estenderia o relatório e o apresentaria a Osíris. Tendo confessado diante dos 42 juízes, mostrado que era impune dos pecados e mostrado “certo na voz”, o morto era acolhido no reino de Osíris. Não se tem muita informação sobre o que se sucedia caso ocorresse o contrário, visto que não era costume falar dos condenados. O que se sabe é que o corpo do condenado permaneceria no túmulo, passando fome e sede, sem nunca mais ver a luz do sol. Se o coração fosse muito mais “pesado que a verdade”, cairia do prato da balança e seria rapidamente devorado pelo monstro Amêntis ou Bebão, com bocas de crocodilo.

Após o ritual de embalsamento, a múmia era colocada em um esquife[5]. Depois era depositada em um sarcófago de pedra e este em um poço fundo. Neste local, colocava-se objetos de estimação do defunto. “Eram sempre evolutivas as formas dos túmulos. Em princípio era uma fossa profunda, escavada na rocha, com paredes em tijolos crus e depois recoberto com areia e entulho. Mais tarde, aos poucos o uso da pedra se tornou habitual e o interior passou a ser revestido de calcário e estuque decorado” (MELLA, 1981, p.45).

A Primeira Dinastia (ou Primeiro Período) do Antigo Egito tem seu início marcado em 3200 a.C. com o Faraó Menés[6] com sinais de influência Mesopotâmica (Sumária). A crença na vida após a morte já existia e, para isto, os mortos eram enterrados em covas rasas, covas estas bem rústicas (Dr. Salima Ikram). Estes montes de terra e pedra assumiram, ao longo do tempo, o simbolismo religioso. O ‘monte’ representava um símbolo da vida e tinha o objetivo de renascer, tinha o poder de ressuscitar o rei para a nova vida após a morte. Tendo em vista a importância e essência religiosa destes montes, a Sociedade Egípcia os transformou em Mastabas.

Uma Mastaba ("casa para a eternidade" ou "casa eterna") é uma forma de túmulo egípcio antigo, em que eram sepultados faraós ou nobres importantes do Egito Antigo. Feitas de tijolos de barro, tinham a forma de um tronco de pirâmide (paredes inclinadas em direção a um topo plano de menores dimensões que a base), cujo comprimento era aproximadamente quatro vezes a sua largura. Ela era uma combinação de tumba, palácio e armazém. Era o lugar para que o defunto pudesse juntar os bens suficientes na viajem para o outro mundo (comida, ferramentas, joias, armas).

As Mastabas foram utilizadas principalmente na Época Tinita (ou Período Arcacio), ou seja, nas Primeira e Segunda Dinastias, nas quais o grau de perfeição já tinha alcançado o Artesanato, visto os grandes achados de vasos de pórfiro, alabastro[7], argila, obsidiana, diorito e cristal de rocha; e joias em ouro e pedras preciosas. Ao longo do desenvolvimento social, econômico e cultural do Egito, estas sepulturas começaram a ficar mais complexas (IV dinastia), com aspectos de casa, com pátios, armazéns, pórticos e aposentos. O Período Tinita termina com o Rei Khasekhemoui. Apesar desta organização dirigida ao Faraó, este período inicial do Egito Antigo foi marcado por contínuas rebeliões no qual a unificação não era pacífica. Era uma incessante luta entre o poder central e as forças colaterais.

A passagem da Dinastia de Tênis para de Mênfis não foi sanguinária. Esta é a primeira Dinastia na qual o Egito assumiu a ordem e as características de união e prosperidade em que se baseou o triunfante desenvolvimento de sua civilização. O primeiro Faraó da III Dinastia foi Sanakht (ou Nebka), uma personagem obscura, considerando que as informações são escassas sobre seu reinado. O seu nome foi ressaltado em uma pequena pirâmide na ilha nilótica de Elefantina[8]. No Sinai foi encontrado um fragmento de um relevo que retrata o Rei com a dupla coroa com o objetivo de destruir um inimigo, o que pode indicar atividades de exploração das minas da região durante o seu reinado ou atividade militar.

A Terceira Dinastia é vista como a idade de ouro do empreendimento e do saber sendo Faraó Djoser e Arquiteto Ihmotep os protagonistas do período. Juan Jesús Vallejo, em seu livro ‘Segredos do Egito’, ratifica: “Se o esplendor do Egito tem um começo provável, este é no ano 2700 a.C., com a construção da cidade da Sakkara. Foi a primeira vez que o homem construiu uma grande cidade em pedra, e o incrível é que o grau de perfeição alcançado é inigualável” (VALLEJO, 2005, p.57). Eles são conhecidos como construtores da Pirâmide de Degraus de Saqqara, o mais antigo edifício de pedra daquelas dimensões do mundo. Como ressalta Federico A. Arborio Mella, “o que nos interessa é tudo o que nos deixou: subitamente, ao invés de apagados traços em tijolos crus, deparamos com um esplêndido complexo construído em pedra. É a primeira verdadeira arquitetura da história da arte” (MELLA, 1981, p.97)

No ano de 2630 a.C. assume o Faraó Djoser, que conduziu o Egito até o ano de 2611 a.C.. Este, como qualquer outro “Rei do Direito Divino” (BRISSAUD, 1976, p.68), dera início à construção de seu túmulo (sua tumba): uma Mastaba com 60 metros de largura e 10 metros de altura. Ao redor, para a proteção, foi construída uma parede, que escondia a Mastaba, ou seja, escondia o poder do faraó. Para a tornar visível novamente, construíram-se outras Mastabas em cima, aparecendo, assim, os degraus (6 degraus). No final da obra, a Pirâmide de Degraus de Saqqara ficou com as seguintes dimensões: seis degraus, sessenta metros de altura, base de 124 x 109, cinco quilômetros de túneis, câmaras destinadas ao Faraó, sua família e seus bens, e 312.000 metros cúbicos de revestimento de pedra feita inteiramente de calcário branco, calcário fino, lajes de calcário branco, resplandecente ao Sol.

A Pirâmide foi erguida com tijolo em pedra, decorada de tijolo cru, isto é, pequenos blocos de calcário em forma retangular que teriam a função de tornar duradouro aquilo que, construído em tijolos crus, deteriorava-se em pouco tempo. Os degraus figuravam a escada simbólica por onde a alma do rei deveria elevar-se a seu pai Rá, o Sol. Eis, então, a primeira Pirâmide de pedra. Juan Jesús Vallejo atenta para um detalhe importante: “A Pirâmide de Degraus é, em muitos aspectos, uma estrutura experimental, revelando muitas alterações no seu plano, mas demonstra um domínio técnico e um poder econômico surpreendente” (VALLEJO, 2005, p.58). Como esclarece John Baines e Jaromír Málek:

As pirâmides mais antigas, que datam da 3ª dinastia, consistem em vários ‘degraus’. A câmara funerária ficava situada abaixo do nível do solo e o seu acesso era feito pelo norte, por um poço descendente. A pirâmide é rodeada, nas suas faces leste, norte e oeste, por galerias subterrâneas (armazéns). A primeira pirâmide de degraus, e provavelmente a única que foi terminada, fica em Saqqara e pertenceu a Netjerykhet Djoser. A pirâmide e os edifícios anexos são circundados por um muro de vedação. O eixo principal do recinto aponta para o norte. Os edifícios anexos, em particular o túmulo sul e o templo funerário, asseguravam o bem-estar do falecido rei na sua nova existência e serviam para manter o seu culto. O complexo de edifícios perto do canto sueste da pirâmide representa uma réplica de pedra das capelas e pavilhões construídos para a celebração do ritual sed. Este ritual tinha lugar para marcar o início de uma nova fase no reinado do faraó e a presença destes edifícios de pedra duradoura garantia que Djoser estaria bem preparado para muitas celebrações do ritual sed, que esperava poder apreciar durante a sua vida depois da morte. (BAINES; MÁLEK. 1996. pp.138,139,142,144)

Além desta obra, foram descobertos alguns fragmentos de um santuário de Heliópolis[9], datado em seu reinado, que denuncia uma iconografia e um estilo egípcios totalmente desenvolvidos. Inspirada em Djoser, surgiu outra obra-prima: a sua estátua, encontrada em uma capela adjacente à Pirâmide (hoje situada no Museu Egípcio do Cairo). Seus restos mortais, apenas um pé mumificado de maneira sumária, está no Instituto de Medicina do Cairo.

Sobre o Complexo de Sakkara: o termo ‘Sakkara’ significa ‘o que abre e guia no caminho’. Seu símbolo é o chacal que leva os perdidos do deserto a terras cultivadas, à terra de homem civilizado. O complexo não contem interior. É cenário para adoração do rei morto. Foi construído duplamente para significar o Alto e Baixo Egito. Em volta tem-se um muro de 10 metros de altura e 1,5 km de comprimento (supostamente o “Muro Branco” de Mênfis), com 14 “portas falsas” e o portão de entrada. Nos armazéns foi achada grande quantidade de vasos de toda a qualidade de material, uns 40 mil ao todo. “Saqqara é o mais atraente e interessante sítio de ruínas do Baixo Egipto” (BAINES; MÁLEK. 1996. p. 142).

IMHOTEP: O HOMEM QUEM CRIOU A ARQUITETURA EM PEDRA
O nome ‘Ihmotep’ significa ‘o que vem em paz’. Seu nome foi esquecido por milênios, tendo somente ressurgido do pó quando da descoberta, em 1924, da estátua do Faraó Djoser pelo arqueólogo inglês Cecil Mallaby Firth[10], acompanhado no local pelo arquiteto e egiptólogo francês Jean-Philippe Lauer, sendo ratificado com a tradução da Pedra de Roseta[11], por Jean François Champollion[12], descoberta pelo exército de Napoleão em 1799 e traduzida em 1822. Entretanto, devido as diversas qualidades a ele atribuídas, sendo Imhotep um plebeu, consideraram, na época, uma mera lenda. Somente com a descoberta de sua estátua, no início do século XX, confirmou-se a existência e a grandiosidade das lendas sobre Imhotep. Por culpa dessa descoberta tardia é que, erroneamente, foi dado a Hipócrates o título de “pai da medicina”, sendo que Imhotep, dois milênios antes, já realizava curas e procedimentos médicos.

Este cidadão egípcio foi o arquiteto, projetista e coordenador de todos os trabalhos da construção da Pirâmide de Degraus. Além disso, de acordo com pesquisas e achados no Complexo de Saqqara, ele também foi: ministro, médico, carpinteiro, escultor, designer, administrador, inventor do calendário e da medicina. “Quando me dei conta de sua importância, o primeiro edifício do mundo construído em séries niveladas de pedras, e desenhado por Imhotep, o Michelângelo da época, resolvi consagrar-me a esta obra”, diz o arqueólogo Jean-Philippe Lauer[13] no Documentário ‘Egito Revelado: Pirâmides’ pelo Discovery Channel (2002).

Ihmotep era um vizir[14] e Sacerdote de Rá. Como conselheiro sábio do rei, foi o primeiro grande arquiteto da civilização egípcia e engenheiro da história. Foi o primeiro a fazer o primeiro teto e o primeiro pilar de calcário (Arqueólogo e Egiptólogo Dr. Zahi Hawass[15], Documentário ‘Egito Revelado: Pirâmides’ pelo Discovery Channel, 2002). Foi ele quem mudou de tijolos de barro para pedra calcária. Orientou rigorosamente o Complexo de Saqqara e a Pirâmide de Degraus na posição cardial Norte-Sul, sendo paralelo ao curso do Rio Nilo. Concebeu uma tinta mais eficaz baseada em defumar a água, sendo incorporada por outras culturas. Inventou a coluna estriada e a não estriada. Os pórticos (entradas), os pilares, os capitéis[16], pequenos templos, edículas (capelas, oratórios) e pavilhões foram construídos em uma linha leve e elegante.

Indubitavelmente Imhotep foi um ser especial e, com o passar dos anos, ele se tornou um mito associado ao divino. Mas foram as qualidades de Imhotep como médico que o converteram em um semideus. “Imhotep foi o primeiro a compilar informações sobre como diagnosticar e curar muitas doenças. O caduceu[17], que hoje é símbolo da sociedade médica, era a vara de poder de Imhotep, com esta vara, ele media a quantidade de energia vital que o ser humano processa em seu interior, desta forma, sabia qual dos centros energéticos ou chakras utilizar para captar e processar a energia vital, bem como identificar aonde existiam desequilíbrios celulares eletromagnéticos” (Sociedade Olho de Hórus). Apenas cinquenta anos após a sua morte, o Faraó Miquerinos lhe dedicou um templo, que se tornou um lugar de peregrinações, oferendas e curas. "Graças à sua ciência médica, ele é comparado pelos egípcios a Esculápio, foi ele quem descobriu a maneira de talhar a pedra para a construção dos monumentos e também se consagrou às Letras" – escreveu o Sacerdote Mâneton[18] acerca de Imhotep.

"O chanceler do rei do Baixo Egito, o primeiro depois do rei, o administrador do grande palácio, o nobre hereditário, o sumo sacerdote de Heliópolis, o carpinteiro, o escultor, o fabricante de recipientes em pedra", é assim que Ihmotep é descrito ao lado dos pés do Faraó Djoser, em Saqqara. Imhotep foi um dos poucos mortais a ser ilustrado como parte de uma estátua de um Faraó. Foi um de um grupo restrito de plebeus a quem foi concedido o status divino após a morte, tendo como centro para seu culto em Mênfis. Os gregos, ao terem contato com o Egito, deslumbraram-se com a lenda de Imhotep, e chamaram-no de Asclepius (Esculápio[19]), para marcar os seus feitos como médico, também sendo chamado de Hermes Trismegisto[20] (Três Vezes Grande), por suas qualidades como Filósofo e Astrólogo, já que revelou as bases de como o Universo funcionava.

Ciro Flamarion Cardoso Santana Cardoso diz o seguinte: “Houve também a adoção eventual de deuses estrangeiros e a divinização de certos personagens históricos (como Imhotep)” (FLAMARION, 1982, p.88). Reverenciado, tornou-se deus da medicina no século VI a.C. (período greco-romano). Foi homenageado pelos escribas egípcios, que derramavam algumas gotas de seu godé em honra do antigo escrevente antes de começarem sua escrita. Na Baixa Época (XXVI Dinastia à XXXI Dinastia), até mesmo um culto lhe foi prestado na “capela” de Saqqara, sanatório para o qual afluíam os coxos de todo o Egito.

O templo-hospital, assim como sua tumba, nunca foi encontrado. Neste local também se desenvolveu a escola de medicina mais importante da antiguidade, “assombrosa e inegavelmente baseada nos ensinamentos de um só homem” (VALLEJO, 2005, p. 59). Foram elaboradas mais de 700 fórmulas para curas, feitas com materiais como enxofre, arsênio e alume. “Naquela época o significado da magia e sua função se confundem com o que hoje em dia chamaríamos tecnologia, pois a ciência naqueles dias estava ligada inseparavelmente ao sagrado. E graças a Ihmotep os sacerdotes do antigo Egito foram fiadores do saber, um conhecimento que em grande parte proveem dessa época tão fascinante e remota” (VALLEJO, 2005, p.59).

Desta maneira, não só os egípcios, mas também gregos e romanos, iam aos subúrbios de Mênfis, onde os discípulos dele realizavam curas nos doentes. O hospital era chamado Asclepion: um edifício, metade templo e metade hospital, consagrado ao nome de seu construtor e onde a ciência, a magia e a religião uniam-se para salvar vidas humanas. Eram feitas orações em memória dele com as beberagens que os Sacerdotes davam aos presentes. Evidenciando sua importância, o Egiptólogo Campbell Price[21] (University of Manchester) diz: “Ihmotep tinha muito mais fama do que a que Tutankamon conseguiu depois de morto” (Documentário ‘Egito Revelado: Pirâmides’ pelo Discovery Channel).
A AMBIÇÃO PÓS-IHMOTEP
O termo ‘pirâmide’ significa ‘ascender’ e no contexto egípcio havia dois motivos principais para sua construção: função religiosa e função política. Aquela refere-se à construção da tumba do faraó, na qual conduzia sua vida a uma vida após a morte. Para tal feito, o Faraó era enterrado com comida e objetos necessários para sua passagem à eternidade. Em resumo, as pirâmides eram as “mansões para a eternidade” (Dr. Robert Steven Bianchi, Documentário ‘Egito Revelado: Pirâmides’ pelo Discovery Channel, 2002).

Para se ter a dimensão do que significou a construção de Pirâmides, Dr. Robert Steven Bianchi salienta que “As Pirâmides deixaram uma impressão duradoura na civilização ocidental. Os fundadores dos Estados Unidos não conseguiram achar um símbolo de maior longevidade e grandeza do que as Pirâmides. Por isso se apropriaram dele e usaram na nota de um dólar” e ratifica que “Essa inovação, essa invenção, se compara a da roda e a do fogo, porque todos os arranha-céus do mundo, os prédios em que eu e você entramos e saímos todo dia, jamais teriam sido possíveis sem a inovação criada por aquele homem” (Documentário ‘Egito Revelado: Pirâmides’ pelo Discovery Channel, 2002).

Quando analisamos o papel político da construção das pirâmides, a partir do momento que se construiu a primeira pirâmide, nasce dentro das mentes dos homens mais poderosos do Egito a ambição de mostrar, através do tamanho de sua pirâmide, seu poder perante a Sociedade. Vale ressaltar que elas foram feitas sem tecnologias modernas e o que mais nos “aprisiona” é que, com tantos avanços tecnológicos atuais, não se consegue reconstruí-las.

Tendo em vista a construção da tumba de degraus, Ihmotep iniciou uma época de ambição desmedida, produzindo grandes construções. Foi uma época de inovação visionária. Como ressalta Federico A. Arborio Mella em seu livro ‘O Egito dos Faraós’, a Pirâmide de Degraus foi “o mais colossal edifício construído pelo homem e seria ele que iria dar impulso para a construção de todas as pirâmides que constelariam a margem ocidental do Nilo” (MELLA,1981,p.98). Como consequência da edificação da Pirâmide de Degraus, os egípcios tentaram construir outra com sete degraus, mas que não gerou um retorno positivo (COUTO, 2008, p. 44). Esta acabou em ruínas e foi abandonada.

“Com a evolução do conceito religioso, o conceito de Ihmotep de uma escada celestial não era mais necessário, sendo que, em seu lugar, surge a face lisa da pirâmide como um reflexo dos raios solares na pedra, uma maneira diferente de representar a ascensão celeste do faraó” (COUTO, 2008, p. 44). Assistimos a ascensão de Faraó Snefru (ou Sneferu), o primeiro da IV Dinastia (início do Império Antigo). “Snefru talvez seja um dos faraós mais notáveis ao subir ao trono do Egito. Ele abriu o caminho; ele é o pioneiro dos edifícios monumentais” (Dr. Peter Brand - Professor de História Antiga e Egiptologia na University of Memphis, Documentário ‘Egito Revelado: Pirâmides’ pelo Discovery Channel, 2002).

Sua primeira pirâmide foi, na verdade, a continuação, modificação e modernização da Pirâmide de Degraus de Huni, último faraó da III Dinastia. Esta pirâmide, a Pirâmide de Meidum, continha seis degraus. Snefru acrescenta dois degraus e, aparentemente, reveste os nivelamentos destes com calcário. Pode-se concluir e considerar, então, de acordo com Sérgio Pereira Couto, que a Pirâmide de Meidum foi “um estágio intermediário entre a forma de degraus e as pirâmides de Gizé” (COUTO,2008,p.45).

A segunda pirâmide de Snefru foi a Pirâmide Curvada[22], a primeira pirâmide com laterais lisas. A questão-foco nesta é o porquê de ter a inclinação. Ela é íngreme por 50 degraus. Depois, diminui-se o declive e continua os últimos 40 degraus. Seria a primeira com lados iguais? Foi um acidente? Houve problemas técnicos? Não deu certo? Seria um protótipo para a próxima pirâmide, a ‘Pirâmide Vermelha’? Quiseram acabar rápido? Quiseram economizar? Muitas perguntas, nenhuma resposta concreta. Vale ressaltar a má aderência entre as pedras e a quantidade de rachaduras que vão até o centro dela, como analisa Dr. Jonathan Foyle. “O egiptólogo alemão Ludwig Borchardt, o mesmo que descobriu o famoso busto de Nefertiti exposto no Museu de Berlim, teorizou que a inclinação foi causada pela necessidade de terminar a pirâmide mais rapidamente, talvez devido à súbita morte do rei” (COUTO, 2008, p. 46).

A terceira e última pirâmide de Faraó Snefru foi a Pirâmide do Norte (ou Pirâmide Vermelha – devido a cor rubro-clara de sua superfície). Pirâmide perfeita, lados lisos, regular, base sólida, e alvenaria refinada, com uma altura de 99 metros, sendo a terceira maior pirâmide do Egito. Foi a primeira a ser revestida com blocos de pedra calcária polida, representando os raios do Sol devolvendo o Faraó à Terra. Presumivelmente, esta é a tumba de Faraó Snefru.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma das primeiras premissas que se aprende em uma Faculdade de História é que sempre deve-se analisar o contexto de um determinado fato. Este foi o ponto determinante para a escolha do tema do presente Trabalho de Conclusão de Curso. Não era aceitável em minha mente a ideia das famosas Pirâmides já terem começado como as Grandes Pirâmides. O que veio antes delas? Qual foi a primeira Pirâmide? Como foi feita? Quem fez? Qual seu sentido? O que representou para a Sociedade Egípcia e para todo o decorrer da História.

As repostas para minhas questões estão na eterna crença da vida após a morte. Foi esta crença que fez com que as pessoas que conviviam com o morto em questão colocassem seu corpo em um buraco cavado na terra. Em cima do corpo, fazia-se um montinho de terra. Os montes era um símbolo da vida que tinham o poder de ressuscitar o rei para a nova vida após a morte.

É fato que religião sempre está conectado à Sociedade, independente do período a que nos referimos e das circunstâncias. Logo, o morto deveria receber o melhor para sua passagem à Eternidade. Chega-se a um tempo no qual o monte de terra não condizia mais com o patamar a qual o morto havia sido elevado. Então de um simples buraco raso na terra, os egípcios dão ao morto um novo lar: as Mastabas.

Entretanto, as Mastabas não foram suficientes para o segundo Faraó da Segunda Dinastia do Antigo Egito: Faraó Djoser. Ele ergue sua Mastaba e a cerca com uma grande parede. Nada obstante, há neste momento uma confusão entre dois pensamentos: o primeiro no que se refere à tumba mostrar o poder do Faraó e o segundo no fato de a parede tampar sua Mastaba. Neste ponto é que entra seu Arquiteto Ihmotep, cuja visão original, pioneira e inovadora promove a construção da Pirâmide de Degraus, colocando mais cinco Mastabas em cima da primeira, formando assim uma escada de seis degraus que levaria o Faraó à Eternidade. As coisas teriam sido diferentes se não fosse pela arquitetura de Ihmotep. Ele visualizou os elementos da construção em pedra e projetou a Pirâmide de Degraus que acabou levando à Grande Pirâmide de Gizé.

Depois de Faraó Djoser e seu Arquiteto Ihmotep, o Antigo Egito não foi mais o mesmo. Eles abriram a visão idealista, visionária e sonhadora, um olhar cada vez mais ambicioso dos outros Faraós. O Egito Antigo se divide em dez períodos que se fracionam em 31 Dinastias, além da Dinastia Macedônica e Dinastia Ptolomaica. Não se sabe ao certo quantas Pirâmides foram erguidas. Os estudos[23] feitos até novembro de 2008 identificam entre 118 a 138 Pirâmides (SLACKMAN, Michael; 2008. LEHNER, Mark; 2008). Como alguns exemplos temos: na IV Dinastia, Abu Rawash (Radjedef), Gizé (Kéops, Kéfren e Miquerinos), Saqqara (Shepseskaf); Dahshur (Snefru); na V Dinastia, Abusir (Sahure, Neuserre, Neferirkare), Saqqara (Userkaf, Wenis, Izeri); na VI Dinastia, Saqqara (Teti, Pepi I, Merente, Pepi II); na VIII Dinastia, Saqqara (Ibi); na XII Dinastia: Dahshur (Sesóstris III, Amenemhet II, Amenemhet III); e na XIII Dinastia: Saqqara (Khendjer).

Logo, é sabido ratificar que a evolução arquitetônica do Antigo Egito não teria sido contemplada se não fosse o pioneirismo de Faraó Djoser e seu Arquiteto Ihmotep, com proeminência da segunda personagem (Ihmotep), que, com sua inexplicável sabedoria, soube interpretar o que Faraó Djoser buscava, mas que foi além, construindo a famosa Pirâmide de Degraus de Saqqara: um protótipo de Pirâmide ou a primeira Pirâmide construída no Egito.

Vale ressaltar que os estudos de campo no Complexo de Saqquara começaram no ano de 1975, ou seja, são temas recentes nos quais ainda há muitas lacunas a serem preenchidas. Por causa destas pesquisas em andamento é que temos certa variedade de teses não concretas a cerca de Faraó Djoser, Arquiteto Ihmotep e a Pirâmide de Degraus. Um exemplo clássico entre Arqueólogos, Historiadores e Egiptólogos é a chamada Escola de Mistérios do Olho de Hórus, onde Ihmotep teria estudado e, por causa de suas grandes habilidades, teria sido apresentado a Faraó Djoser, que o contratou. Outro ponto a destacar é o local onde se encontra a tumba de Ihmotep. Devido aos seus conhecimentos, sua sabedoria, seu raciocínio, tudo indica que deveria ser algo quase do mesmo modo que a de um Faraó. Mas até hoje não foi encontrada. Tudo que se sabe sobre este ator social vem das traduções da Estátua de Djoser, da Pirâmide e da Pedra de Roseta (descoberta por Napoleão).



BIBLIOGRAFIA

ALVAREZ, Jose Lopez. O enigma das pirâmides. Paraná: Editora Hemus, 1978.

BAINES, John; MÁLEK, Jeromír. Coleção Grandes Impérios e Civilizações. O Mundo Egípcio: Deuses, Templos e Faraós. Volume 1. Tradução de Maria Emília Vidigal. Rio de Janeiro: Editora Edições delPrado, 1996.

BAINES, John; MÁLEK, Jeromír. Coleção Grandes Impérios e Civilizações. O Mundo Egípcio: Deuses, Templos e Faraós. Volume 2. Tradução de Maria Emília Vidigal. Rio de Janeiro: Editora Edições delPrado, 1996.

BRISSAUD, Jean-Marc. O Egito dos Faraós: Grandes Civilizações Desaparecidas. Rio de Janeiro: Editions Famot, 1978.

COUTO, Sérgio Pereira. Desvendando o Egito: Tutancâmon, as esfinges e outros mistérios da terra dos faraós. São Paulo: Universo dos Livros, 2008.

FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucília. O Brasil Republicano, Volume 3. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.

FLAMARION, Ciro S. Cardoso. O Egito Antigo. 2ª edição. São Paulo: Editora Brasiliense, 1982.

GRALHA, Julio. Deuses, faraós e o poder. Rio de Janeiro: Barroso Produções Editoriais, 2002.

GRIMBERG, Carl. A aurora da civilização: História Universal. Portugal: Editora Europa América, 1989.

LANGE, Kurt. Pirâmides, esfinges e faraós. Minas Gerais: Editora Itatiaia, 1958.

PETIT, Paul. História Antiga. Tradução de Pedro Moacyr Campos. 2ª edição. São Paulo: Editora Difusão Européia do Livro, 1971.

MELLA, Federico A. Arborio. O Egito dos Faraós: História, Civilização, Cultura. Tradução de Attílio Cancian. Paraná: Editora Hemus, 1981.

VALLEJO, Juan Jesús. Segredos do Egito. São Paulo: Universo dos Livros, 2005.

Documentário ‘Egito Revelado Pirâmides’
Ano: 2002

Produzido por Atlantic Production para National Geographic Channel
Distribuído por Fremanthe Media Enterprises
Produção Executiva: Anthony Geffen
Entrevistas: Dr. Robert Steven Bianchi, Dr. Gunter Dreyer, Jean-Philippe Lauer, Dr. Zahi Hawass, Dr. Campbell Price, Dr. Peter Brand, Dr. Jonathan Foyle e Dra. Salima Ikram.




[1] Também pode ser encontrado como Djéser, Djeser, Geser, Zoser e Zhoser.
[2] Também pode ser encontrado como Imotep.
[3] Cidade dos mortos, na margem esquerda do Rio Nilo. Também pode ser encontrada como Sakarah e Saqqara.
[4] ‘Ureo’ é a Cobra da deusa Uto.
[5] Urna, tumba, caixão.
[6] Também chamado de Meni ou Narmer.
[7] Vasos de gargalo comprido, feitos de material delicado e translúcido. O alabastro é um gesso branco, finíssimo, mais suave do que o mármore. Nele eram colocados unguentos e perfumes preciosos. A maior parte era proveniente da cidade de Damasco, na Síria.
[8] Elefantina é uma ilha no rio Nilo, no sul do Egito. A ilha funcionava como fronteira natural do Egito, devido ao fato de se situar junto à primeira catarata do Nilo.
[9] Heliópolis era o nome que os gregos antigos davam à cidade egípcia de Iunu ou Iunet Mehet (traduzido do egípcio antigo, "O Pilar" ou "Pilar do Norte"). Foi uma das cidades mais importantes do ponto de vista religioso e político durante a época do Império Antigo. Hoje em dia, esta cidade está praticamente destruída. A divindade principal da cidade era o deus o Sol Rá.
[10] Egiptólogo britânico. Depois de um breve período em Chipre como advogado, Firth aderiu ao Serviço de Antiguidades no Egito. Ajudou na primeira pesquisa arqueológica de Nubia (1907-1910) e estabeleceu o museu de Aswan. Firth tornou-se Inspetor de Antiguidades em Saqqara (1913-1931), onde escavou o Complexo Pirâmide de Degraus e o cemitério ao redor da pirâmide de Teti. Firth morreu na licença em Inglaterra, ao preparar o apuramento dos túmulos arcaicas de Saqqara. (Fonte: http://www.saqqara.nl/)
[11] No final do século XVIII, Napoleão Bonaparte lançou a campanha egípcia. O objetivo de tal campanha era declarar o Egito como conquista da França. A colonização do país daria à França grande autoridade no Oriente. No verão de 1799, os soldados de Napoleão destruíram paredes antigas para aumentar o Fort Julien, na cidade de Roseta. Um dos soldados notou um fragmento polido de uma pedra entalhada. Ao retirá-la do entulho, logo percebeu que poderia ser algo valioso e a entregou ao Instituto. Os estudiosos do Instituto concluíram que a Pedra era uma espécie de decreto e iniciaram sua tradução imediatamente, processo longo e entediante. Estudiosos a batizaram de Pedra de Roseta em homenagem à cidade onde foi encontrada [Fonte: BBC].
[12] Jean-François Champollion (Figeac, 23 de dezembro de 1790 — Paris, 4 de março de 1832) foi um linguista e egiptólogo francês. Considerado o pai da egiptologia, a ele se deve a decifração dos hieróglifos egípcios.
[13] Jean-Philippe Lauer (7 de maio de 1902 - 15 de maio de 2001), foi um arquiteto e egiptólogo francês. Ele foi considerado o principal especialista em técnicas e métodos de construção de Pirâmide.
[14] Maior autoridade depois do Faraó. Também chamado de “Juiz da Porta” (por Faraó Quéops) ou “Pilar dos Dois Países” (MELLA,1981,p.91). Era Ministro da Justiça, coordenador de toda burocracia e responsável pela arrecadação de impostos.
[15] Dr. Zahi Hawass é arqueólogo, diretor de escavações em Gizé, Saqqara, Oasis de Bahariya e Vale dos Reis. Recebeu seu PhD em 1987pela University of Pennsylvania. Escreveu vários artigos eruditos e livros. Há mais de trinta anos ele tem aumentado a consciência da arqueologia e da preservação da preciosa herança do Egito. (Fonte: http://www.drhawass.com/wp/)
[16] O capitel é a extremidade superior de uma coluna, de um pilar ou de uma pilastra.
[17] Bastão de ouro, com duas serpentes defrontadas e enroscadas em torno dele, sob um par de asas em que se termina a extremidade superior (trocado com Apolo, pela flauta, passa a ser o símbolo de Hermes ou Mercúrio, como emissário dos deuses, protetor dos rebanhos e condutor das almas).
[18] Mâneton ou Manetão foi um Historiador e Sacerdote Egípcio natural de Sebenitos (em egípcio antigo, Tjebnutjer) que viveu durante a Era Ptolemaica durante aproximadamente o século III a.C., embora alguns historiadores afirmem que ele seria natural de Roma e teria escrito sua obra por volta de 200 d.C.
[19] Esculápio é o deus da Medicina e da cura da mitologia greco-romana.
[20] Hermes Trismegisto era um legislador egípcio, pastor e filósofo, que viveu na região de Ninus por volta de 1.330 a.C. Teve sua contribuição registrada através de trinta e seis livros sobre teologia e filosofia, além de seis sobre medicina, todos perdidos ou destruídos após invasões ao Egito. O estudo sobre sua filosofia é denominado hermetismo. (Fonte: Mackey, Albert (1914). An Ecyclopedia of Freemansory (Londres: The Masonic History Company). p. 336)
[21] Campbell Price é Professor, Mestre e Doutor em Egiptologia pela University of Liverpool. Participou em trabalhos de campo em Zawiyet Umm el-Rakham e Saqqara. Desde 2011, é curador do Egito e do Sudão no The Manchester Museum, uma das maiores coleções de Egiptologia do Reino Unido.
[22] Pirâmide Torta, Pirâmide de ‘Dupla Inclinação’, Falsa Pirâmide, Pirâmide Curva ou Pirâmide Romboidal.
[23] (17 de novembro de 2008). «In the Shadow of a Long Past, Patiently Awaiting the Future». The New York Times
Mark Lehner (2008). The Complete Pyramids: Solving the Ancient Mysteries. p. 34. Thames & Hudson [S.l.] 25 de março de 2008. ISBN 978-0-500-28547-3.

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