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quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Rua do Ouvidor: Histórias e Curiosidades da rua mais famosa do centro!

Rua do Ouvidor:
Histórias e Curiosidades da rua mais famosa do centro!
Rua do Ouvidor -Início do Século XX - Fonte: Rio Antigo 
Este novo Artigo foi escrito com o intuito de mostrar aos leitores como apenas uma rua pode ser cheia de histórias e fofocas históricas. A Rua do Ouvidor é motivo de grande orgulho para todos os cariocas. Este Artigo também serviu de base para o documentário que participei sobre o mesmo assunto.

Fonte: Rio Antigo

PALAVRAS CHAVES
Rua do Ouvidor – Imperador - Igreja

O INÍCIO DA RUA DE "MIL" NOMES!
Falar da nobre Rua do Ouvidor é remeter ao Rio de Janeiro antigo, em uma época na qual a cidade ainda estava em formação, uma cidade recém-fundada (1565) que tinha montado sua sede de Governo no Morro do Castelo. Vamos transportar nossas mentes ao ano de 1574: o governador da pequena cidade era Cristóvão de Barros (1573-1575), uma área ainda bem selvagem, com poucas casas e ruas abertas, quase sem condições de viver. É dessa data (1575) nos registros históricos que aparece pela primeira vez a rua, que na época se chamava Rua Desvio do Mar, devido ser a única rua em cujo final fazia exatamente essa função: desviar do Mar. Para muitos historiadores, é considerada a rua transversal mais antiga de nossa cidade. Era uma rua simples, de terra e com poucas moradias. O maior número de pessoas residia aos redores do Morro do Castelo, onde temos ruas que já não existem mais, como a Rua da Misericórdia.

Mas ainda no século XVI vamos ver a primeira de muitas mudanças do nome da rua. De ‘Desvio do Mar’ ela passou a se chamar ‘Rua Aleixo Manuel’ em homenagem a um dos primeiros moradores da Rua. Também é registrado que, quando a Igreja Santa Cruz dos Militares foi construída (1628), a rua ganhou o nome de ‘Rua Cruz’. Mas vocês pensam que paramos por aí? Não! A rua também teve os nome de ‘Rua Francisco da Fonseca’, ‘Rua da Gadelha’ - esses nomes foram entre os nomes ‘Rua Aleixo Manuel’ e ‘Rua da Cruz’ – ‘Rua Padre Homem da Costa’ (em 1650, quando a rua foi totalmente alinhada; teria sido a primeira grande obra), ‘Rua Moreira Cesar’ e até que, em 1760, assume o nome atual.

POR QUE RUA DO OUVIDOR?
A história do nome ‘Ouvidor’ começa no ano de 1745, no Governo de Gomes Freire de Andrade (conde de Bobadelha), considerado um dos principais governadores dos tempos coloniais (segundo Varnhagem). Só para dar uma ilustração a todos, foi esse Governador que edificou o Convento de Santa Tereza, reconstruiu o Aqueduto da Carioca, o Chafariz do Largo da Carioca (retirado em 1926) em substituição da antiga fonte, entre outros. Nessa época a Fazenda Real adquiriu uma casa que foi comprada de um cidadão chamado José de Andrade para que lhe servisse de moradia para o Ouvidor da cidade - ouvidor era uma espécie de juiz nomeado pelo Governador Geral a fim de escutar as queixas da população.

O primeiro Ouvidor a morar no logradouro foi Manuel Pena de Mesquita sendo o que de verdade originou o nome da rua. O segundo ouvidor da cidade, Francisco Berquó da Silva, foi residir no local em 1760. Daí em diante a rua passou a ser popularmente chamada Rua do Ouvidor, mais tarde oficializada seu nome. Quando perguntava aonde era a rua, o povo respondia:
- Aqui é a Rua do Ouvidor, onde ele mora!
- A Rua do Ouvidor é logo ali!

O COMÉRCIO DA RUA DO OUVIDOR
A rua veio a sofrer uma grande transformação a partir do ano de 1808, com a chegada da Família Real à nova capital imperial e a abertura dos Portos. Até o ano de 1815, a rua, apesar de frequentada por uma elite, era simples, com 6,6 metros de largura e 800 metros de extensão. Em Dezembro desse mesmo ano, D. João VI cela a paz com os franceses e isso provoca um êxodo destes que estavam insatisfeitos com o tipo de governo de seu país, que tinha restaurado a Monarquia. Eles movimentaram o comércio da rua, introduzindo vários artigos, principalmente aqueles relacionados à moda. Foram abrindo lojas de roupas, cabeleireiros para senhoras, perfumarias, cafeterias, joalherias, casas de músicas, que atraiam toda a elite carioca. Claro que era a pequena parcela da população que possuía uma condição para gastar nas lojas. A rua se tornou ponto obrigatório para todos aqueles que passavam pelo centro da cidade. Era uma verdadeira atração todas aquelas lojas.

Ela local também da elite que sabia ler, lugar de pessoas cultas, chegando a uma determinada época ter 50 livrarias, onde políticos e intelectuais encontravam-se para leitura e bate papo, lendo bons livros e bebendo café. Podemos considerar a Rua do Ouvidor o primeiro “Shopping Center da Cidade”. Era o verdadeiro ”point’’ carioca.

Os franceses introduziram ali lojas jamais vistas. Uma das mais famosas que existia até pouco tempo era a Casa Clark (1818), que tinha famosos sapatos com números quebrados.

Por toda a história do Rio de Janeiro, a Rua do Ouvidor sempre foi considerada a rua das novidades (até por que a elite se encontrava ali), que antes de serem implantadas na cidade, eram testadas na Rua do Ouvidor.

Foi à primeira rua apenas para pedestres - em 1829 - quando ganhou novo calçamento, depois que um decreto do Imperador D. Pedro I proibiu a passagem de carros puxados a boi, veículos pesados comparados aos nossos caminhões.

Foi na Rua do Ouvidor que pela primeira vez houve a implementação do paralelepípedo (1854). Quando houve a inovação da iluminação a gás, adivinha aonde foi? Sim, na Rua do Ouvidor em 1854. Em 1890 chegou a iluminação elétrica. Foi a primeira rua a ter um telégrafo (1856). Primeira rua a possuir um telefone (1877) (primeiro telefone fabricado no Brasil). Primeira rua a possuir um cinema (1897).

Como expliquei acima, a rua era um lugar de intelectuais e na esquina da Travessa do Ouvidor (leva esse nome porque liga a Rua do Ouvidor à Rua Sete de Setembro) seria fundada a Academia Brasileira de Letras pelos intelectuais Machado de Assis e Lúcio Mendonza. Na rua foi instalada a linha de bondes puxados à tração animal (burros). Todo o equipamento foi comprado e trazido dos Estados Unidos e os animais eram de Sorocaba.

Fonte: Rio Antigo

Um detalhe bem curioso: desde 1829, a rua era apenas para pedestres, mas se abria uma exceção no período de Carnaval para a passagem de carros alegóricos puxados à tração animal. O que mais chama atenção é um carnaval em uma rua tão estreita, mas claro, guardado as devidas dimensões. A festa não era uma magnitude como os dias atuais.

Houve uma tentativa de troca mal sucedida do nome da rua no final do século XIX. O nome foi trocado para Rua Moreira César, nome do Comandante da expedição organizada contra os jagunços de Antonio Conselheiro. As placas da rua foram trocadas e passou a ser oficial, mas o povo não gostou e no boca a boca continuavam a chamar como Rua do Ouvidor, o que obrigou o Governo a trocar novamente para o antigo nome.

FOFOCAS NA RUA DO OUVIDOR
D. Pedro I
Quem não gosta de uma boa fofoca hein? Ainda mais envolvendo pessoas do alto escalão do Governo? Desde épocas coloniais brasileiras e luso-brasileiras, a história tem se alimentado com belos casos que entraram para as tradicionais rodas de fofocas. De algumas que eu descobri, tem duas que vou destacar por que são muito boas.

01. Por decreto de D. Pedro II, a rua foi transformada apenas para pedestres - desde 1829. Mas aconteceu uma situação inusitada com seu filho, D. Pedro II. Pela vontade do Imperador, em 1888 a carruagem real tentou entrar na rua e um guarda impediu a passagem. Mesmo o cocheiro identificando que ali estava a vossa excelência, o guarda não deixou passar, obrigando a carruagem a dar a volta.

02. Agora a fofoca que mais apimenta nossa querida rua é as visitas de nosso primeiro imperador, D. Pedro I às francesas que trabalhavam nas lojas. O imperador simplesmente amava visitar a rua, constantemente sendo visto pelas redondezas, sempre de bate papo com as balconistas francesas, sempre belas e dispostas a agradar o imperador brasileiro. Tanto é que ali na rua ele possuiu duas amantes e uma delas gerou um filho. Nosso imperador era “danadinho”. Foi pai aos 16 anos com a esposa do Conde da Áustria e teve seu último aos 30, com uma freira. Por isso, além do comércio praticado na rua, nosso imperador sempre estava pelas redondezas, sempre atrás de um bom “rabo de saia”.

RUA DO OUVIDOR NO SÉCULO XX
A Rua do Ouvidor no início dos anos 1900 era chamada de “beco de luxo, estreito e sinuoso”. Possuía 313 prédios nos quais a elite comprava tudo de importado que precisavam para “ostentar” sua posição na sociedade.

Confeitarias abertas entre a Rua do Ouvidor e a dos Ouvides (atual Miguel Couto) alegravam a alta classe depois de um dia de compras nas mais belas lojas como a de chapéus Watson – os homens adoravam usar chapéus – e a loja Falais Royal.

Segundo o jornalista da época Luiz Edmundo, a Rua do Ouvidor era o centro da moda carioca, o verdadeiro lugar para observar e comprar as tendências usadas na Europa. Sendo que as obras promovidas pelo prefeito Pereira Passos (1902-1906) modificaram muito a paisagem da rua. Prédios foram demolidos e deram lugar a construções mais modernas. Com a construção e a inauguração da Av. Central (1905), a rua começou a perder seu charme, pois a nova avenida veio ocupar o espaço de lugar luxuoso e das principais lojas da cidade. Mas seu glamour continuou e seu centro de comércio ainda bem movimentado.


Nos dia de hoje, a rua é toda comercial. Em uma boa parte dela existem lojas de todos os tipos de produtos, e uma pequena parte dela, depois que ela é cortada pela Rua Primeiro de Março, é lugar de encontro de trabalhadores cansados de uma semana estressante, bares e restaurantes de música ao vivo e transmissão de jogos; local típico que todo o carioca gosta, ficando lotado nos finais de semana.

PONTOS TURÍSTICOS
A Rua do Ouvidor pode ser considerada toda turística até pela história que a ronda. Entretanto, destaquei aqui dois principais para que possamos ver o quanto ela é importante para o Rio de Janeiro.

01. Igreja Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores
Está situada na Rua do ouvidor número 35 e faz esquina com a Travessa do Comércio. O templo foi erguido como um pequeno oratório em 1743 pelos comerciantes e moradores das redondezas em uma casa na esquina da Rua Cruz - atual Rua do Ouvidor (o oratório era onde hoje está a Igreja de Santa Cruz do Militares). Esse oratório foi erguido à invocação de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores. Pouco tempo depois, em 1747, os comerciantes se reuniram e fundaram uma irmandade para edificação de um templo para a Santa, também conhecida como “Igreja dos Mercadores”. No dia 4 de novembro do mesmo ano foi lançada a pedra fundamental para o templo. As obras andaram rápidas (por que será hein!? Mercadores, comércio), de modo que no dia 6 de agosto de 1750 o templo ficou pronto - um recorde para a época - e foi logo depois consagrado. Até o ano de 1766 foram finalizadas coisas menores. Mas o que importava era que a estrutura principal estava pronta. Entre os anos de 1869 e 1879 o templo sofreu grande e extensas reformas para o conservar em melhor estado.

Mas o fato curioso aconteceu no dia 25 de setembro de 1893. Nesta data foi quando eclodiu a Segunda Revolta da Armada Brasileira. Um tiro de canhão foi disparado pelo encouraçado Aquidabã da Baía de Guanabara atingindo a região onde estava a estátua da santa, que sofreu uma queda de 25 metros de altura e apenas quebrou um pequeno pedaço. Na época, isso foi considerado um verdadeiro milagre e o culto à Santa começou a crescer assustadoramente.

Tanto o projétil quando a Santa estão expostos na sacristia da Igreja.

02. Igreja Santa Cruz dos Militares
Fica na esquina da Rua do Ouvidor, na Rua Primeiro de Março, tendo sua frente virada para a rua. Ela foi construída na época do Rio colonial, no qual existia um forte de defesa da cidade, erguido em 1605, mas que em 1623 encontrava-se em ruínas. Nesse ano se iniciou a construção da Igreja de Vera Cruz, sendo concluída e inaugurada em 1628. Era local de oração usado por aqueles que guardavam as defesas de nossa cidade.

Posteriormente, no Largo do Carmo, eram realizadas as manobras militares – que era próximo à Rua do ouvidor. Este foi o local escolhido, em 1770, para a construção da Igreja de Santa Cruz dos Militares, onde existia o forte e a outra igreja. Entre os anos de 1780 e 1811, o templo foi totalmente reconstruído, tornando-se uma irmandade imperial por decreto de D. Pedro I, seu provedor, em 1828. Em 1914 a igreja foi totalmente reformada devido a um incêndio. Vale ressaltar que as ruínas do forte ainda existem onde é hoje a esquina da Rua Primeiro de Março e Rua do Ouvidor. A irmandade Santa Cruz ergueu a Capela de Santa Cruz. Antes da ruína do local, a guarnição solicitou que ali fosse transformado em cemitério para os militares. Um detalhe: a igreja original era toda decorada pelo mestre Valentim.

Igreja Santa Cruz dos Militares

Imperador D. Pedro II

BIBLIOGRAFIA
CARVALHO, de Delgado: História da cidade do Rio de Janeiro. 2. Ed. Rio de Janeiro: secretária Municipal de Cultura e Turismo, 1990
FREIRE, Américo: Guerra de posições na metrópole: a prefeitura e as empresas de ônibus no Rio de Janeiro (1906-1948). 1. Ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2001


PASSEIO com o professor Milton Teixeira.

SITE

FOTOS: página do facebook 'Fotos do Rio Antigo'.

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Autor do Artigo: Paulo Silva
(Acadêmico em História | Co-Criador do Blog | Técnico em Enfermagem)

Contato: paulojorgest200213@gmail.com

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