MARIA
BONITA: A MULHER DO CANGAÇO!
Rio de Janeiro
2017
Paulo Jorge Gonçalves da Silva
Casa de Maria Bonita- cidade de Paulo Afonso |
Fonte
da foto: http://gshow.globo.com/Rede-Bahia/Mosaico-Baiano/noticia/2014/12/pesquisador-do-cangaco-mostra-acervo-no-interior-da-bahia.html
"Se,
para muitos, Lampião foi um bandido sanguinário, para muitos outros foi um
herói e continua a ser uma fascinante e lendária figura”. É desta forma que o
Rei do Cangaço é descrito em reportagem publicada na revista O Cruzeiro, em 6
de junho de 1959, intitulada ‘Justiça para Lampião’.
Muito
se escreve e fala-se sobre o “Rei do Cangaço”, mas o que não se pode deixar
para trás é a participação do que seria a “Rainha do Cangaço”, seu grande amor
Maria Bonita. A paixão dos dois era muito intensa, comparada a dos famosos
Bonnie e Clyde[1].
Maria amoleceu o coração do Rei, acompanhando-o até o fim de sua vida.
Neste
novo Artigo vamos conhecer um pouco não apenas da história de Maria, mas da
participação da mulher no cangaço.
UMA
MULHER CHAMADA MARIA E O BANDO DE MULHERES
Será
que o cangaço seria diferente se Vergulino não tivesse conhecido Maria Bonita?
Não podemos responder a essa pergunta, mas podemos com certeza afirmar que ela
mudaria a direção dessa campanha, exercendo uma fortíssima influência no
indomável marido e sendo capaz de matar e morrer pelo seu amor.
Maria
Gomes de Oliveira nasceu dia 8 de março de 1911 (Dia Internacional da Mulher)
em uma fazenda em Santa Brígida, em Paulo Afonso – BA. Filha de Maria Joaquina
Conceição Oliveira e José Gomes de Oliveira, era uma família humilde que vivia
e se sujeitava às leis do sertão.
Aos
15 anos ela foi obrigada a se casar com José Miguel da Silva, mais conhecido como
“Zé Neném”, que, além de fazer de tudo com a jovem moça (tudo de ruim), era
estéril. Segundo relatos, todas as vezes que este a maltratava, ela fugia para
a casa dos pais, passava dias e dias lá até os ânimos se acalmarem. Em uma
dessas conheceu um caboclo alto, um tanto corcunda, cego do olho direito,
óculos ao estilo professor, manco de um pé (baleado três anos antes), com
moedas de ouro costuradas na roupa. Exalava mistura forte de perfume francês
com suor acumulado de muitos dias. Era de costume o bando de Lampião sempre
passar pela fazenda, pois o Rei do Cangaço tinha um certo nível de amizade com
a família.
Podemos
dizer que a grande responsável em unir os dois pombinhos foi a mãe dela, cansada
de ver a filha sofrer. Todas as vezes que se encontrava com lampião comentava
com ele sobre sua filha e isso foi aproximando o famigerado senhor com aquela
singela menina. Os dois se conheceram em 1929. O cangaceiro podia até não
preencher os requisitos de um bom partido, mas foi com esses atributos que
conquistou a futura mulher.
E
a aproximação deu certo! Um ano depois Maria subia na garupa do cavalo de
Virgulino Ferreira da Silva e entrava para o bando. Corpo bem
feito, olhos e cabelos castanhos, um metro e cinquenta e seis de altura, testa
vertical, nariz afilado. Era bonita, habilidosa na costura (assim como era
Lampião) e adorava dançar. Foi o suficiente para Virgulino quebrar a tradição
do cangaço e permitir o ingresso de uma mulher no bando, o que abriu precedente
para várias outras.
Mas
de onde surgiu o apelido ‘Maria Bonita’? Curiosamente, ela nunca foi conhecida
por este cognome. Segundo o historiador Frederico Pernambucano de Mello, o
“nome de guerra” não surgiu no Sertão, mas no meio urbano do Rio de Janeiro, em
1937, por meio do uma “conspiração” de jornalistas. A partir dali, tomou conta
do Brasil. Até então, a mulher de Lampião era chamada de ‘Rainha do Cangaço’,
‘Maria de Dona Déa’, ‘Maria de Déa de Zé Felipe’ ou ‘Maria do Capitão’. O nome
definitivo surgiu inspirado em um romance de 1914, Maria Bonita, de Júlio
Afrânio Peixoto, adaptado para o cinema 23 anos depois. Vários repórteres
chegaram ao consenso para padronizar a informação disseminada pelos jornais
impressos.
Aqui
vamos ver um relato de Wanessa Campos (historiadora) sobre o perfil de Maria
bonita:
Dadá atirava com
destreza. Tinha boa pontaria, valentona e a mão certeira no rifle era a mesma
que bordava. Foi a estilista do Cangaço inovando os bornais com florais coloridos
e colocando estrelas, signo de Salomão, moedas, fitas, nos chapéus dos
cangaceiros. Buscava inspiração no Raso da Catarina, Bahia por ser um lugar
tranquilo. A sua história já inspirou filmes. Sua coragem e superação foram
reconhecidas pela Câmara Municipal de Salvador em 1980 “pela sua luta e
representatividade feminina”. (CAMPOS, 2015, p.2)
Maria
Bonita morreu em 28 de julho de 1938, quando o bando acampado na Grota de
Angicos, em Poço Redondo (Sergipe), foi atacado de surpresa pela Polícia Armada
Oficial (conhecida como "Volante"). Foi degolada ainda viva, assim
como Lampião, porém este já morto, e outros nove cangaceiros.
AS
CANGACEIRAS
Antes
de aparecer Maria, o bando de Lampião não aceitava mulheres. Mas isso tudo
mudou e elas tiveram participação decisiva no grupo.
Nos
três primeiros anos, de 1929 a 1932, as mulheres do cangaço ficavam reclusas no
Raso da Catarina, refúgio no Nordeste da Bahia. Quando, enfim, foram
autorizadas a acompanhar os bandos de cangaceiros, passaram a conviver com a
elite sertaneja, ou seja, os coronéis.
As
mulheres não caminhavam junto com o grupo masculino. Além disso, caminharam
apenas por alguns estados e não por todo o Nordeste, como se imaginava. Percorreram
Sergipe, Bahia, Pernambuco e Alagoas, porém não participavam diretamente dos
combates. Elas ficavam escondidas enquanto os homens saqueavam, sequestravam e
matavam. Elas usavam armas apenas para a defesa pessoal, ficavam responsáveis
de cuidar dos cangaceiros, faziam os afazeres domésticos e cuidavam das
feridas, proporcionando, assim, uma melhor jornada, uma melhor condição do
grupo em continuar sua campanha. Elas melhoraram a parte estética, levando
máquinas de costura (apesar de não costurar), produtos de higiene, panelas,
etc.
A
história mostra que a Bahia foi o Estado que mais “rendeu” mulheres
cangaceiras, a começar por Maria Bonita. Em seguida veio Sergipe. Eis algumas
cujos nomes a História Cangaceira registra:
-
Bahia: Mariquinha, mulher de Labareda; Naninha, mulher de Gavião; Nenê, mulher
de Luis Pedro; Noca, mulher de Mormaço; Osana, mulher de Labareda (segunda);
Lidia, mulher de Zé Baiano; Verônica, mulher de Bala Seca; Zefinha, mulher de
Besouro.
-
Sergipe: Maria Fernandes, mulher de Juriti; Rosalina, mulher de Mariano; Sebastiana,
mulher de Moita Brava.
-
Pernambuco: apenas Dadá, mulher de Corisco.
Há
quem diz que Lampião começou a perder terreno por causa das mulheres, pois, na
hora de fugir, elas ficavam para trás limpando o acampamento. Era uma visão
machista sobre a mulher (visão particular). Na realidade elas não tinham uma função
específica.
Cada
dia uma era responsável para preparar o alimento. Quem costurava era os homens.
Havia grandes costureiros no grupo, um deles bem famoso chamado Luiz Pedro, que
morreu depois de tentar fugir.
Os
cangaceiros não tinham o costume de ser machistas severos. Entretanto, quando o
assunto era infidelidade de suas companheiras, o quadro mudava de figura. De
acordo com relatos de D. Maria Francisca (bisavó da noiva do escritor deste Artigo),
que namorou um cangaceiro, assim como hoje em dia, os homens envolvidos no caso
de traição brigavam e as mulheres também apanhavam. Porém, é válido ressaltar
que isto é História oral, passado de geração a geração.
Maria Bonita |
Fonte da foto: https://tokdehistoria.com.br/tag/maria-bonita/
O
CANGAÇO NAS TELAS
Segue
abaixo uma análise crítica feita por Gustavo Menezes ao Portal ‘Não São Imagens’
dos 10 melhores filmes/documentários sobre cangaço:
O
cangaço vem inspirando os fazedores de cinema no Brasil desde que a câmera do
mascate libanês Benjamin Abrahão registrou o bando de Lampião em 1937. O
Cangaceiro (Lima Barreto, 1953) conquistou o Festival de Cannes e inaugurou de
fato o nordestern, gênero que transpunha o faroeste americano para o sertão. A chanchada
logo atacaria nas paródias do gênero, de Os Três Cangaceiros (Victor Lima,
1959) a O Cangaceiro Trapalhão (Daniel Filho, 1983), e até mesmo a
pornochanchada, o faroeste espaguete e o manguebeat viriam somar ao gênero nas
décadas seguintes.
10
- O Cangaceiro (1953)
Direção:
Lima Barreto
Mesmo
incorreto no retrato simplista que faz do fenômeno do cangaço, transplantando
os papéis do western para o sertão (o
cangaceiro toma o lugar do bandido mexicano) e macaqueando roteiro, técnica e
estética do cinema americano, é de importância histórica devido a sua
repercussão internacional e por marcar, simultaneamente, o início do nordestern e o fim da Vera Cruz. Também
iniciou a longa lista de papéis de cangaceiro na carreira de Milton Ribeiro,
que se tornaria figura carimbada do gênero pelas próximas duas décadas.
Cartaz:
Assista!
09
- Corisco & Dadá (1996)
Direção:
Rosemberg Cariry
Esta
pungente reconstituição cronológica da trajetória do segundo casal de
cangaceiros mais famoso da história chama atenção pela crueza e seriedade com
que trata da violência inerente ao tema. Feita no início da Retomada ajudou a
alavancar as carreiras de Dira Paes e Chico Díaz, ambos com performances de
respeito nos papéis-título. A trilha original é do Quinteto Violado.
Cartaz:
Assista!
08
- Os Últimos Cangaceiros (2011)
Direção:
Wolney Oliveira
Um
casal de ex-integrantes do bando de Lampião é descoberto após 70 anos vivendo
sob pseudônimos. A partir daí, Durvinha e Moreno fazem as pazes com a memória,
recontando suas trajetórias antes, durante e depois do cangaço, com riqueza de
detalhes. O filme, então, segue a recepção dos dois após a revelação do segredo
septuagenário, analisando como a visão sobre o fenômeno do cangaço mudou no
Brasil. Conta com depoimentos de especialistas, ex-Volantes e outros
ex-cangaceiros, além de imagens de arquivo preciosas.
Cartaz:
Assista!
07
- Lampião, o Rei do Cangaço (1963)
Direção:
Carlos Coimbra
Carlos
Coimbra foi, sem dúvida, o maior herdeiro d’O Cangaceiro. Com várias
contribuições de peso ao nordestern, ajudou a estabelecer o gênero e a manter
vivo no cinema o interesse pelo bando de Lampião. Neste, que considero seu
melhor filme de cangaço, ele parte do imaginário popular para recriar os
últimos dias de Lampião e Maria Bonita (encarnados muito bem por Leonardo
Villar e Vanja Orico). A trilha é do maestro Gabriel Migliori e a fotografia,
de Tony Rabatoni.
Cartaz:
Assista!
06
- O Cangaceiro Trapalhão (1983)
Direção:
Daniel Filho
Nas
três décadas em que fizeram sucesso, nada escapou à veia cômica dos Trapalhões.
Valendo-se da fama da minissérie Lampião e Maria Bonita, produzida pela Globo
no ano anterior, a trupe convidou Nelson Xavier e Tânia Alves para reprisar os
papéis do casal de cangaceiros e adicionou à trama o clichê da troca de
identidades. Didi Mocó então se torna sósia do “rei do sertão”, que anda
perseguido pelo Tenente Zé Bezerra (José Dumont, mais ou menos reprisando seu
Zé Rufino da minissérie). Com diálogos afiadíssimos de Chico Anísio, o filme
casa muito bem o estilo de fantasia e aventura dos Trapalhões com a mitologia
do cangaço e do sertão, resultando num dos melhores filmes do grupo.
Cartaz:
Assista!
05
- O Último Dia de Lampião (1975)
Direção:
Maurice Capovilla
Docudrama
que reconstitui a emboscada à gruta de Angicos que vitimou Lampião e boa parte
de seu bando. Conta com depoimentos fundamentais de testemunhas oculares da
história. O cuidado a detalhes na encenação é tanto que a pesquisa de roteiro
contou com ajuda do cangaçólogo Antônio Amaury Corrêa de Araújo, e os
figurinos, das ex-cangaceiras Dadá e Sila.
Cartaz:
Assista!
04
- O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro (1969)
Direção:
Glauber Rocha
Nesta
continuação espiritual de Deus e o Diabo na Terra do Sol, o matador Antônio das
Mortes (Mauricio do Valle) vai à fictícia cidadezinha Jardim das Piranhas para
acabar com Coirana (Lorival Pariz), novo líder cangaceiro que surgiu por lá. No
processo, questiona seus princípios e vira-se contra o latifundiário do local.
Mesmo tendo mais cara de western e filme de ação que seu antecessor, o Dragão
não deixa de lado o fervor mítico-popular característico dos filmes de Glauber.
Cartaz:
Assista!
03
- Baile Perfumado (1997)
Direção:
Lírio Ferreira e Paulo Caldas
No
calor da Retomada, Pernambuco já dava sinais de seu futuro glorioso com este
marco. Aqui, o bando de Lampião (Luiz Carlos Vasconcelos) é mostrado pelo olhar
do mascate libanês Benjamin Abrahão (Duda Mamberti), autor das únicas imagens
em movimento do grupo e testemunha ocular de atributos pouco comentados do rei
do cangaço. Cheio de energia, o filme acertadamente tem trilha original
composta pelos cabeças do incipiente movimento manguebeat – nomes como Chico
Science, Fred 04 e Siba.
Cartaz:
Assista!
02
- Memória do Cangaço (1964)
Direção:
Paulo Gil Soares
Hoje
um clássico do documentário nacional, este média-metragem da Caravana Farkas
traça a história do cangaceirismo, do início ao fim, com base em pesquisa
cuidadosa. Além de especular sobre as origens do fenômeno – apresentando até
teses racistas da medicina da época -, o filme tem depoimentos valiosos, como o
do coronel José Rufino, celebrado assassino de cangaceiros, e o do
ex-cangaceiro Saracura.
Cartaz:
Assista!
01
- Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964)
Direção:
Glauber Rocha
Com
uma linguagem inovadora, que inclui a incorporação de narração em versos de
cordel e a fotografia inspirada na xilogravura, Deus e o Diabo representou,
também, uma visão inaugural na cinematografia brasileira sobre o fenômeno do
cangaço. Rejeitando a espetacularização acrítica d’O Cangaceiro e seus
seguidores, Glauber Rocha ressignifica aqui os códigos do western e apresenta
uma tese incontornável: o cangaceirismo e o messianismo são frutos do mesmo
horror; são duas respostas equivalentes ao mesmo problema da fome e da
violência insolúveis. Mas são, antes de tudo, alienação.
Cartaz:
Assista!
OUTRAS FOTOS
Fonte:
http://www.eunapolis.ifba.edu.br/informatica/Sites_Historia_EI_31/cangaco/Site/imagens/mb.html
Foto:
http://www.eunapolis.ifba.edu.br/informatica/Sites_Historia_EI_31/cangaco/Site/imagens/mb5.jpg
DATA
DA FOTO: 1939
FOTÓGRAFO:
Desconhecido
LOCAL:
Aracaju, SE, Brasil.
No dia da morte do
casal Lampião e Maria Bonita, Virgulino morreu de tiro e foi degolado conforme
os costumes da época. Maria Bonita gravemente ferida foi degolada ainda viva.
No IML de Aracaju, as cabeças foram observadas pelo médico Dr. Carlos Menezes.
Ao contrário do que pensavam, as cabeças não apresentaram qualquer sinal de
degenerescência física, anomalias ou displasias, tendo sido classificados, pura
e simplesmente, como normais. A imagem acima, o legista Charles Pittex e as
cabeças mumificadas de Lampião e Maria. (Portal Foto da História)
BIBLIOGRAFIA
[1] Bonnie
e Clyde : casal de jovens que ficaram conhecidos por praticar assaltos no
interior americano entre os anos de 1931 a 1934. Morreram ambos impiedosamente
cravados a balas em Lousiana, no dia 23 de maio de 1934.
Autor do Artigo: Paulo Silva
(Professor de História | Co-Criador do Blog | Técnico em Enfermagem)
Contato: profhistoria_paulo@yahoo.com
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