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segunda-feira, 24 de abril de 2017

Maria Bonita: A mulher no cangaço!

MARIA BONITA: A MULHER DO CANGAÇO!











Rio de Janeiro
2017
Paulo Jorge Gonçalves da Silva

Casa de Maria Bonita- cidade de Paulo Afonso



"Se, para muitos, Lampião foi um bandido sanguinário, para muitos outros foi um herói e continua a ser uma fascinante e lendária figura”. É desta forma que o Rei do Cangaço é descrito em reportagem publicada na revista O Cruzeiro, em 6 de junho de 1959, intitulada ‘Justiça para Lampião’.

Muito se escreve e fala-se sobre o “Rei do Cangaço”, mas o que não se pode deixar para trás é a participação do que seria a “Rainha do Cangaço”, seu grande amor Maria Bonita. A paixão dos dois era muito intensa, comparada a dos famosos Bonnie e Clyde[1]. Maria amoleceu o coração do Rei, acompanhando-o até o fim de sua vida.

Neste novo Artigo vamos conhecer um pouco não apenas da história de Maria, mas da participação da mulher no cangaço.

UMA MULHER CHAMADA MARIA E O BANDO DE MULHERES
Será que o cangaço seria diferente se Vergulino não tivesse conhecido Maria Bonita? Não podemos responder a essa pergunta, mas podemos com certeza afirmar que ela mudaria a direção dessa campanha, exercendo uma fortíssima influência no indomável marido e sendo capaz de matar e morrer pelo seu amor.

Maria Gomes de Oliveira nasceu dia 8 de março de 1911 (Dia Internacional da Mulher) em uma fazenda em Santa Brígida, em Paulo Afonso – BA. Filha de Maria Joaquina Conceição Oliveira e José Gomes de Oliveira, era uma família humilde que vivia e se sujeitava às leis do sertão.

Aos 15 anos ela foi obrigada a se casar com José Miguel da Silva, mais conhecido como “Zé Neném”, que, além de fazer de tudo com a jovem moça (tudo de ruim), era estéril. Segundo relatos, todas as vezes que este a maltratava, ela fugia para a casa dos pais, passava dias e dias lá até os ânimos se acalmarem. Em uma dessas conheceu um caboclo alto, um tanto corcunda, cego do olho direito, óculos ao estilo professor, manco de um pé (baleado três anos antes), com moedas de ouro costuradas na roupa. Exalava mistura forte de perfume francês com suor acumulado de muitos dias. Era de costume o bando de Lampião sempre passar pela fazenda, pois o Rei do Cangaço tinha um certo nível de amizade com a família.

Podemos dizer que a grande responsável em unir os dois pombinhos foi a mãe dela, cansada de ver a filha sofrer. Todas as vezes que se encontrava com lampião comentava com ele sobre sua filha e isso foi aproximando o famigerado senhor com aquela singela menina. Os dois se conheceram em 1929. O cangaceiro podia até não preencher os requisitos de um bom partido, mas foi com esses atributos que conquistou a futura mulher.

E a aproximação deu certo! Um ano depois Maria subia na garupa do cavalo de Virgulino Ferreira da Silva e entrava para o bando. Corpo bem feito, olhos e cabelos castanhos, um metro e cinquenta e seis de altura, testa vertical, nariz afilado. Era bonita, habilidosa na costura (assim como era Lampião) e adorava dançar. Foi o suficiente para Virgulino quebrar a tradição do cangaço e permitir o ingresso de uma mulher no bando, o que abriu precedente para várias outras.

Mas de onde surgiu o apelido ‘Maria Bonita’? Curiosamente, ela nunca foi conhecida por este cognome. Segundo o historiador Frederico Pernambucano de Mello, o “nome de guerra” não surgiu no Sertão, mas no meio urbano do Rio de Janeiro, em 1937, por meio do uma “conspiração” de jornalistas. A partir dali, tomou conta do Brasil. Até então, a mulher de Lampião era chamada de ‘Rainha do Cangaço’, ‘Maria de Dona Déa’, ‘Maria de Déa de Zé Felipe’ ou ‘Maria do Capitão’. O nome definitivo surgiu inspirado em um romance de 1914, Maria Bonita, de Júlio Afrânio Peixoto, adaptado para o cinema 23 anos depois. Vários repórteres chegaram ao consenso para padronizar a informação disseminada pelos jornais impressos.

Aqui vamos ver um relato de Wanessa Campos (historiadora) sobre o perfil de Maria bonita:

Dadá atirava com destreza. Tinha boa pontaria, valentona e a mão certeira no rifle era a mesma que bordava. Foi a estilista do Cangaço inovando os bornais com florais coloridos e colocando estrelas, signo de Salomão, moedas, fitas, nos chapéus dos cangaceiros. Buscava inspiração no Raso da Catarina, Bahia por ser um lugar tranquilo. A sua história já inspirou filmes. Sua coragem e superação foram reconhecidas pela Câmara Municipal de Salvador em 1980 “pela sua luta e representatividade feminina”. (CAMPOS, 2015, p.2)

Maria Bonita morreu em 28 de julho de 1938, quando o bando acampado na Grota de Angicos, em Poço Redondo (Sergipe), foi atacado de surpresa pela Polícia Armada Oficial (conhecida como "Volante"). Foi degolada ainda viva, assim como Lampião, porém este já morto, e outros nove cangaceiros.
 
À esquerda Maria e Lampião

AS CANGACEIRAS
Antes de aparecer Maria, o bando de Lampião não aceitava mulheres. Mas isso tudo mudou e elas tiveram participação decisiva no grupo.

Nos três primeiros anos, de 1929 a 1932, as mulheres do cangaço ficavam reclusas no Raso da Catarina, refúgio no Nordeste da Bahia. Quando, enfim, foram autorizadas a acompanhar os bandos de cangaceiros, passaram a conviver com a elite sertaneja, ou seja, os coronéis.

As mulheres não caminhavam junto com o grupo masculino. Além disso, caminharam apenas por alguns estados e não por todo o Nordeste, como se imaginava. Percorreram Sergipe, Bahia, Pernambuco e Alagoas, porém não participavam diretamente dos combates. Elas ficavam escondidas enquanto os homens saqueavam, sequestravam e matavam. Elas usavam armas apenas para a defesa pessoal, ficavam responsáveis de cuidar dos cangaceiros, faziam os afazeres domésticos e cuidavam das feridas, proporcionando, assim, uma melhor jornada, uma melhor condição do grupo em continuar sua campanha. Elas melhoraram a parte estética, levando máquinas de costura (apesar de não costurar), produtos de higiene, panelas, etc.

A história mostra que a Bahia foi o Estado que mais “rendeu” mulheres cangaceiras, a começar por Maria Bonita. Em seguida veio Sergipe. Eis algumas cujos nomes a História Cangaceira registra:

- Bahia: Mariquinha, mulher de Labareda; Naninha, mulher de Gavião; Nenê, mulher de Luis Pedro; Noca, mulher de Mormaço; Osana, mulher de Labareda (segunda); Lidia, mulher de Zé Baiano; Verônica, mulher de Bala Seca; Zefinha, mulher de Besouro.

- Sergipe: Maria Fernandes, mulher de Juriti; Rosalina, mulher de Mariano; Sebastiana, mulher de Moita Brava.

- Pernambuco: apenas Dadá, mulher de Corisco.

Há quem diz que Lampião começou a perder terreno por causa das mulheres, pois, na hora de fugir, elas ficavam para trás limpando o acampamento. Era uma visão machista sobre a mulher (visão particular). Na realidade elas não tinham uma função específica.

Cada dia uma era responsável para preparar o alimento. Quem costurava era os homens. Havia grandes costureiros no grupo, um deles bem famoso chamado Luiz Pedro, que morreu depois de tentar fugir.

Os cangaceiros não tinham o costume de ser machistas severos. Entretanto, quando o assunto era infidelidade de suas companheiras, o quadro mudava de figura. De acordo com relatos de D. Maria Francisca (bisavó da noiva do escritor deste Artigo), que namorou um cangaceiro, assim como hoje em dia, os homens envolvidos no caso de traição brigavam e as mulheres também apanhavam. Porém, é válido ressaltar que isto é História oral, passado de geração a geração.

Maria Bonita


O CANGAÇO NAS TELAS



Segue abaixo uma análise crítica feita por Gustavo Menezes ao Portal ‘Não São Imagens’ dos 10 melhores filmes/documentários sobre cangaço:

O cangaço vem inspirando os fazedores de cinema no Brasil desde que a câmera do mascate libanês Benjamin Abrahão registrou o bando de Lampião em 1937. O Cangaceiro (Lima Barreto, 1953) conquistou o Festival de Cannes e inaugurou de fato o nordestern, gênero que transpunha o faroeste americano para o sertão. A chanchada logo atacaria nas paródias do gênero, de Os Três Cangaceiros (Victor Lima, 1959) a O Cangaceiro Trapalhão (Daniel Filho, 1983), e até mesmo a pornochanchada, o faroeste espaguete e o manguebeat viriam somar ao gênero nas décadas seguintes.

10 - O Cangaceiro (1953)
Direção: Lima Barreto
Mesmo incorreto no retrato simplista que faz do fenômeno do cangaço, transplantando os papéis do western para o sertão (o cangaceiro toma o lugar do bandido mexicano) e macaqueando roteiro, técnica e estética do cinema americano, é de importância histórica devido a sua repercussão internacional e por marcar, simultaneamente, o início do nordestern e o fim da Vera Cruz. Também iniciou a longa lista de papéis de cangaceiro na carreira de Milton Ribeiro, que se tornaria figura carimbada do gênero pelas próximas duas décadas.

Cartaz:

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09 - Corisco & Dadá (1996)
Direção: Rosemberg Cariry
Esta pungente reconstituição cronológica da trajetória do segundo casal de cangaceiros mais famoso da história chama atenção pela crueza e seriedade com que trata da violência inerente ao tema. Feita no início da Retomada ajudou a alavancar as carreiras de Dira Paes e Chico Díaz, ambos com performances de respeito nos papéis-título. A trilha original é do Quinteto Violado.

Cartaz:

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08 - Os Últimos Cangaceiros (2011)
Direção: Wolney Oliveira
Um casal de ex-integrantes do bando de Lampião é descoberto após 70 anos vivendo sob pseudônimos. A partir daí, Durvinha e Moreno fazem as pazes com a memória, recontando suas trajetórias antes, durante e depois do cangaço, com riqueza de detalhes. O filme, então, segue a recepção dos dois após a revelação do segredo septuagenário, analisando como a visão sobre o fenômeno do cangaço mudou no Brasil. Conta com depoimentos de especialistas, ex-Volantes e outros ex-cangaceiros, além de imagens de arquivo preciosas.

Cartaz:

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07 - Lampião, o Rei do Cangaço (1963)
Direção: Carlos Coimbra
Carlos Coimbra foi, sem dúvida, o maior herdeiro d’O Cangaceiro. Com várias contribuições de peso ao nordestern, ajudou a estabelecer o gênero e a manter vivo no cinema o interesse pelo bando de Lampião. Neste, que considero seu melhor filme de cangaço, ele parte do imaginário popular para recriar os últimos dias de Lampião e Maria Bonita (encarnados muito bem por Leonardo Villar e Vanja Orico). A trilha é do maestro Gabriel Migliori e a fotografia, de Tony Rabatoni.

Cartaz:

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06 - O Cangaceiro Trapalhão (1983)
Direção: Daniel Filho
Nas três décadas em que fizeram sucesso, nada escapou à veia cômica dos Trapalhões. Valendo-se da fama da minissérie Lampião e Maria Bonita, produzida pela Globo no ano anterior, a trupe convidou Nelson Xavier e Tânia Alves para reprisar os papéis do casal de cangaceiros e adicionou à trama o clichê da troca de identidades. Didi Mocó então se torna sósia do “rei do sertão”, que anda perseguido pelo Tenente Zé Bezerra (José Dumont, mais ou menos reprisando seu Zé Rufino da minissérie). Com diálogos afiadíssimos de Chico Anísio, o filme casa muito bem o estilo de fantasia e aventura dos Trapalhões com a mitologia do cangaço e do sertão, resultando num dos melhores filmes do grupo.

Cartaz:

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05 - O Último Dia de Lampião (1975)
Direção: Maurice Capovilla
Docudrama que reconstitui a emboscada à gruta de Angicos que vitimou Lampião e boa parte de seu bando. Conta com depoimentos fundamentais de testemunhas oculares da história. O cuidado a detalhes na encenação é tanto que a pesquisa de roteiro contou com ajuda do cangaçólogo Antônio Amaury Corrêa de Araújo, e os figurinos, das ex-cangaceiras Dadá e Sila.

Cartaz:

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04 - O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro (1969)
Direção: Glauber Rocha
Nesta continuação espiritual de Deus e o Diabo na Terra do Sol, o matador Antônio das Mortes (Mauricio do Valle) vai à fictícia cidadezinha Jardim das Piranhas para acabar com Coirana (Lorival Pariz), novo líder cangaceiro que surgiu por lá. No processo, questiona seus princípios e vira-se contra o latifundiário do local. Mesmo tendo mais cara de western e filme de ação que seu antecessor, o Dragão não deixa de lado o fervor mítico-popular característico dos filmes de Glauber.

Cartaz:

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03 - Baile Perfumado (1997)
Direção: Lírio Ferreira e Paulo Caldas
No calor da Retomada, Pernambuco já dava sinais de seu futuro glorioso com este marco. Aqui, o bando de Lampião (Luiz Carlos Vasconcelos) é mostrado pelo olhar do mascate libanês Benjamin Abrahão (Duda Mamberti), autor das únicas imagens em movimento do grupo e testemunha ocular de atributos pouco comentados do rei do cangaço. Cheio de energia, o filme acertadamente tem trilha original composta pelos cabeças do incipiente movimento manguebeat – nomes como Chico Science, Fred 04 e Siba.

Cartaz:

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02 -  Memória do Cangaço (1964)
Direção: Paulo Gil Soares
Hoje um clássico do documentário nacional, este média-metragem da Caravana Farkas traça a história do cangaceirismo, do início ao fim, com base em pesquisa cuidadosa. Além de especular sobre as origens do fenômeno – apresentando até teses racistas da medicina da época -, o filme tem depoimentos valiosos, como o do coronel José Rufino, celebrado assassino de cangaceiros, e o do ex-cangaceiro Saracura.

Cartaz:

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01 - Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964)
Direção: Glauber Rocha
Com uma linguagem inovadora, que inclui a incorporação de narração em versos de cordel e a fotografia inspirada na xilogravura, Deus e o Diabo representou, também, uma visão inaugural na cinematografia brasileira sobre o fenômeno do cangaço. Rejeitando a espetacularização acrítica d’O Cangaceiro e seus seguidores, Glauber Rocha ressignifica aqui os códigos do western e apresenta uma tese incontornável: o cangaceirismo e o messianismo são frutos do mesmo horror; são duas respostas equivalentes ao mesmo problema da fome e da violência insolúveis. Mas são, antes de tudo, alienação.

Cartaz:

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OUTRAS FOTOS




DATA DA FOTO: 1939
FOTÓGRAFO: Desconhecido
LOCAL: Aracaju, SE, Brasil.
No dia da morte do casal Lampião e Maria Bonita, Virgulino morreu de tiro e foi degolado conforme os costumes da época. Maria Bonita gravemente ferida foi degolada ainda viva. No IML de Aracaju, as cabeças foram observadas pelo médico Dr. Carlos Menezes. Ao contrário do que pensavam, as cabeças não apresentaram qualquer sinal de degenerescência física, anomalias ou displasias, tendo sido classificados, pura e simplesmente, como normais. A imagem acima, o legista Charles Pittex e as cabeças mumificadas de Lampião e Maria. (Portal Foto da História)

BIBLIOGRAFIA




[1] Bonnie e Clyde : casal de jovens que ficaram conhecidos por praticar assaltos no interior americano entre os anos de 1931 a 1934. Morreram ambos impiedosamente cravados a balas em Lousiana, no dia 23 de maio de 1934.



Autor do Artigo: Paulo Silva
(Professor de História | Co-Criador do Blog | Técnico em Enfermagem)

Contato: 
profhistoria_paulo@yahoo.com

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