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sábado, 14 de março de 2015

Anos 20 - Vasco X Sociedade Carioca


INTRODUÇÃO
Vamos imaginar uma Brasil na década de 20. Será um grande início para entendermos qual a verdadeira intenção desse artigo no qual não vou poder mostrar por completo a Historia do Clube, mas dar uma visão aos leitores da luta vascaína.

Nesse período, o Presidente da República era Arthur Bernardes (11/22 até 11/26). Seu governo sofreu várias agitações devido ao fim da Segunda Guerra Mundial e onde o mundo ainda se recuperava. A economia brasileira não andava muito bem e ainda enfrentava várias revoltas em território nacional. Ainda vivíamos à sombra de uma sociedade altamente racista que ainda não tinha adaptado-se a aceitar a  libertação dos escravos, evento este ocorrido há aproximadamente 33 anos.

Nesse cenário nada favorável, um clube começa a reescrever a História social do país, desafiando os poderosos e colocando para jogar negros e operários em seu primeiro ano na elite. Foi campeão, foi humilhado, rebaixado, quiseram apagar sua luta. Entretanto, aquele que viria se tornar um dos grandes, venceu tudo e todos com a força dos seus associados, com o suor de seus jogadores, com a união de comerciantes portugueses e com a força para querer lutar contra a exclusão da camada mais pobre.

A luta de Vasco da Gama não era contra Flamengo, Fluminense, Botafogo ou América, mas sim contra toda uma sociedade elitista carioca que tentava usar o futebol como um esporte separatista e de exclusão.

DESENVOLVIMENTO
Nascimento do Gigante
Antes de chegar à luta social, tenho que mostrar como nasceu o Clube de Regatas Vasco da Gama.

Imaginemos que estamos no ano de 1898; Brasil governado por um cansado D. Pedro II, mas em constante evolução e crescimento, mas que também vivia um período turbulento com crises políticas.

Em um dia de agosto, mas precisamente no dia 21 de agosto, um grupo de 63 rapazes (em alguns lugares dizem que foram 62) imigrantes portugueses e descendentes diretos desejavam fundar um grupo de Remo. Então se reuniam em uma sala da Sociedade Dramática Filhos de Telma, localizada no bairro da Saúde realizando, assim, o sonho e ali nascendo o Club de Regatas Vasco da Gama. Este nome foi escolhido em homenagem ao aniversário dos 400 anos que o herói português Vasco da Gama havia conseguido vencer o Cabo das Tormentas e chegado à Índia.

A primeira sede do Vasco ficava em um barracão na Ilha das Moças, que ficava no Cais do Porto.

Vitorias no mar... vitorias na terra
No inicio do século XX, apesar do pouco tempo de existência, Vasco da Gama já tinha tradição no Remo onde se demonstrava ser um gigante dos mares. Até 1915, o Club de Regatas já tinha conquistado mais de 20 títulos.

A sociedade viu desembarcar da Inglaterra um esporte novo chamado futebol que assim que foi introduzido na sociedade foi se embrenhando na raiz de cada cidadão. Em 1913, desembarcou no Rio de Janeiro uma seleção de Lisboa a convite do Botafogo Futebol Clube para a inauguração de seu campo em General Severiano. Esse jogo, tão marcante para a História do Botafogo, incentivou um grupo de portugueses a se aventurar nesse novo esporte e aproveitou da criação de um clube chamado Lusitânia para se fundir e criar seu setor futebolístico. Deste clube veio também não apenas jogadores mais também sócios e patrimônio, que consistia em chuteiras, uniformes e bolas de futebol. Então, em 26 de novembro de 1915, a fusão se completava e o clube de futebol iniciava suas atividades. Logo depois, solicitou a filiação à Liga Metropolitana de Futebol onde foi aceito em 29 de fevereiro de 1916.

A intolerância Social: A luta de um clube
Depois da filiação, Vasco iniciou suas atividades na terceira divisão do futebol carioca aonde, em seu primeiro jogo, levou uma surra de 10x1 de Paladino. Mas era apenas o começo. Desde essa época, Vasco já aceitava em seu quadro de esportista de futebol pessoas negras e pobres. A única exigência era saber jogar, visto que era um time pequeno ainda, sem chamar atenção e jogando na terceira divisão. Ou seja, ninguém se importava com aquele com quem jogava, mas sua ascensão foi meteórica.

Com negros e pobres em campo, ganhou seu primeiro título em 1922,  a serie B do Carioca. onde conquistou o direito em campo para jogar a Liga Metropolitana de Desportos terrestres (LMDT) e em seu primeiro ano de divisão foi ...CAMPEÃO! Dentre os campeões estavam o chofer de táxi, Nelson da Conceição, o estivador, Nicolino, o pintor, Ceci e o motorista de Caminhão, Bolão, além de quatro jogadores brancos e analfabetos.


Times como Flamengo, Fluminense e Botafogo tinham em seu plantel jogadores da alta sociedade carioca da época, frequentavam os melhores restaurantes, festas, vestiam-se bem e degustavam dos melhores pratos. Eles jamais poderiam admitir perder para um time de relação social e raça inferiores. A partir deste título - Carioca de 1922 - nascia não só a rivalidade com esses aristocratas mais também a luta que Vasco enfrentaria para colocar seus jogadores para jogar.

Começou ai uma série de questionamentos que acabaria com a exclusão do Club por causa de falta de estádio. Nessa época, Vasco tinha apenas um campo de treino na Rua Moraes e Silva (número 261) na Tijuca. A Aristocracia começou a acusá-lo de receber jogadores de profissões duvidosas, dizendo que negros e trabalhadores não poderiam jogar, que o clube deveria ter um estádio para mandar seus jogos, que o Vasco pagava uma ajuda de custo* aos seus atletas e isso não era permitido e que o futebol era amador, tudo isso era para ver o time fora do campeonato de 1923. Após inúmeros fracassos, os clubes poderosos tiveram uma idéia. Acharam uma solução para banir em 1924 de vez esse time de classe inferior. Eles se uniram e abandonaram a LMDT e fundaram a AMEA – Associação Metropolitana de Esportes - excluindo Vasco da Gama por não ter um estádio. Além disto, exigiram que Vasco dispensasse doze atletas, com o seguinte detalhe: todos negros pela acusação de terem uma profissão duvidosa.
José Augusto Prestes
Diante dessa situação, o então presidente do Vasco, José Augusto Prestes, desistiu de filiar-se à AMEA e enviou uma carta ao presidente desta Instituição contento uma resposta que entraria para um dos grandes marcos da historiografia brasileira e a luta contra o racismo no Brasil, essa enviada no dia 7 de abril de 1924.

Destaquei dois trechos dessa carta!

“...quanto à condição de eliminar doze (12) dos nossos jogadores das nossas equipes, resolve por unanimidade a diretoria do Club de Regatas Vasco da Gama não a dever aceitar, por não se conformar com o processo por que foi feita a investigação dos posições sociais desses nossos consócios, investigações levadas a um tribunal onde não tiveram nem representação nem defesa...”

“São esses doze jogadores jovens, quase todos brasileiros, no começo de sua carreira e o ato público que os pode macular nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu , nem sob o pavilhão que eles, com tanta galhardia, cobriram de glórias...”

Então, no ano de 1924, foi disputado duas ligas ao mesmo tempo no Rio de Janeiro, Vasco da Gama disputou a LMDT e venceu de forma invicta conquistando o bi-campeonato.

Em 1925, a diretoria do Vasco insistiu e apertou a AMEA e assim foi aceito de volta à Liga e voltando a ter seu confronto contra os poderosos, mas sob a condição de disputar seus jogos num estádio. (foi escolhido o campo de Andarahy). Negros e pobres foram mantidos em campo. Mas o Vasco decidiu juntar seus associados, os comerciantes portugueses, jogadores e torcida e construir sua própria casa; seus domínios, assim, acabariam com qualquer implicância. O local escolhido foi um terreno em São Cristóvão (a chácara de São Januário), que fora um presente de D.Pedro I à Marquesa de Santos. Então, com a força de todos e doações de torcedores de toda a cidade, o estádio foi erguido e inaugurado em 21 de abril de 1927, até então o maior estádio do Brasil e que seria palco de vários acontecimentos históricos. Após dois anos, ganhou iluminação e se tornou o único estádio do Brasil a receber jogos noturnos.

CONCLUSÃO
Acima de apenas um clube de futebol, Vasco da Gama se tornou símbolo de uma luta contra o racismo e contra uma sociedade que se dividia em ricos e pobres. Por 45 minutos, todos eram iguais perante a lei e jogavam um esporte que viria a ser o maior do mundo. Numa sociedade que estava turbulenta, Vasco fez sua revolução em campo, lutou para colocar os excluídos em campo. Bangu foi o primeiro a colocar negros em campo, mas foi Vasco quem lutou, sofreu e venceu em campo.

Seleção de 1923
Time Base de 1923 - Os heróis da luta.
Nelson, Leitão e Mingote (Claudio);
Nicolino, Bolão e Arthur;
Paschoal, Torterolli, Arlindo, Ceci e Negrito.
Técnico: Ramón Platero

*O Vasco pagava seus jogadores para jogar. Depois da proibição, a diretoria achou outra forma de pagar: com animais. Cada jogador ganhava um animal (galinha, porco, cabra, etc). Daí nasceu a expressão: “pagar o bicho”.

BIBLIOGRAFIA
www.netvasco.com
www.duplipensar.net/dossies/historia
www.historiabrasileira .com/bibliografia/arthurbernardes
www.paixaovasco.com


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Autor do Artigo: Paulo Silva
(Acadêmico em História | Co-Criador do Blog | Técnico em Enfermagem)

Contato: paulojorgest200213@gmail.com

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3 comentários:

  1. Olá meninos ! Acredito que o blog será de grande utilidade para os estudantes em geral e professores. Paulo, adorei o assunto primeiro artigo, mas preciso fazer uma observação: no primeiro parágrafo, vc fala do governo de Arthur Bernardes e diz que houve uma agitação por causa do final da Segunda Guerra Mundial. Não seria da Primeira Guerra? Já que a Segunda, terminou em 1945? Dá uma olhadinha ! Aguardo os próximos artigos. Beijos, meninos.

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  2. Poxa vida!
    Parabéns aos criadores do blog....

    Muito bom mesmo...

    Adoro história, só ela nós inspira conteúdo e cultura,
    o suficiente para escrevermos as nossas!

    Gosto muito de ler, vou acompanhar vcs de perto!

    mais uma vez parabéns...

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